domingo, 14 de fevereiro de 2016

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Lançamento - Livro Conto de Aruanda

Por: Gregorio Lucio

Prezado amigo e amiga,

Conto de Aruanda enfim está pronto. Estamos disponibilizando a versão em pdf do livro no link abaixo.

Ao lado compartilhamos o link com a obra publicada no AgBook para aqueles que tenham interesse em ter a versão impressa do livro.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Nova versão de Amostra - Conto de Aruanda 2015



Boa noite! 

Após alguns pedidos daqueles que tem tido contato com um pouco das obras em que tenho trabalhado nos últimos anos (2011/2015), tratando da Umbanda e seu universo religioso, estou publicando uma nova versão de Amostra da obra "Conto de Aruanda". Romance que venho escrevendo (e tentando terminar) há mais de 1 ano, fazendo referência ao imaginário da nossa cultura religiosa. Dessa vez, a versão de amostra conta com a indicação de todos os capítulos que a obra possui (22 no total), além do prólogo e das palavras do autor contextualizando o trabalho, o qual pretendo concluir entre o fim de 2015 e o início do próximo ano.

Espero que apreciem!

Gregorio Lucio

Conto de Aruanda (versão de Amostra 2015)

domingo, 13 de setembro de 2015

Sobre o Benzimento

Por: Gregorio Lucio

(extraído da obra O Livro dos Benzimentos Brasileiros, de Max Sussol)







quarta-feira, 15 de julho de 2015

Ética de ser Umbandista

Por: Gregorio Lucio


Neste momento em que se tem discutido a tal "intolerância religiosa", torna-se cada vez mais necessário que o umbandista amadureça sua postura diante da sociedade.

Desenvolver senso crítico. Ser capaz de construir uma identidade de classe. Pensar o mundo que o cerca. Buscar conhecimento sobre sua religião. Ser capaz de esclarecer os que desconhecem sua fé, sem querer converter a ninguém, bem como saber colocar no seu devido lugar, com educação e austeridade, aqueles que não a respeitam...

Mas tudo isso, para além de qualquer coisa, de qualquer situação externa de opressão ou desfavorecimento, só se consegue quando se é exemplo.Trata-se de uma Ética. Ser exemplo. Na família, no trabalho, perante essa mesma sociedade que o persegue e discrimina. Ter uma postura, hábitos e comportamentos que se coadunem com os valores que diz seguir. Isso não depende de nada, nem de ninguém de fora. 

Por que não adianta reclamar que se é perseguido e discriminado pela sociedade e fazer trapaça no trabalho, mentir pro chefe, pra esposa(o), fazer fofoca. Seguir as modinhas. Deixar a família pra "cair na noite". Aparecer sempre por aí com o copinho "disso e daquilo" na mão...

Enfim, demonstrar que sua experiência religiosa/espiritual na Umbanda o faz enxergar (se é que realmente o faz) a vida com senso de realidade. Dar testemunho de que sua religião o ensina e inspira a estar íntegro diante da existência, e não simplesmente como um crédulo que olha para o mundo e o vê "enfeitiçado", distante e desvinculado de qualquer compromisso consigo mesmo, em que qualquer erro, falha moral, descuido com a própria vida, saúde, família, profissão, equívocos de qualquer espécie, podem ser resolvidos ou curados por um punhado de rezas e oferendas. 

Isso é uma visão imatura que expressa a infância espiritual em que muitos de nós, umbandistas, ainda nos encontramos. Perseguidos pela nossa própria ignorância. Mais do que nunca, precisamos descobrir e despertar essa Ética de ser Umbandista dentro de nós.



quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A Visão de um Adepto: Relações Humanas e o Sentido Religioso

Por: Gregorio Lucio


O templo é a instituição representante de qualquer religião na sociedade. É o local para onde os seguidores dirigem-se afim de sentir o contato com o Sagrado de maneira mais intensa, além de poder compartilhar com o próximo a sua fé.

Assim, os Terreiros recebem diversas pessoas com as mais variadas necessidades e expectativas em relação a religião de Umbanda. Há aqueles que chegam ao terreiro devido a intercorrências da vida (doenças, perda de familiares, crises financeiras ou de relacionamento, desemprego, etc). Há outros que estão vinculados pela própria história familiar, sendo frequentadores da religião desde a infância ou juventude. Há também aqueles que buscam a religião por um sentido de chamado espiritual, o qual emerge com um sentimento de vazio ou inquietação indefinida. Entre muitas outras possibilidades.

Mas, desconhece-se, até então, a realidade da casa e o que, de fato, esta tem a oferecer em termos de propostas e vivências, pelo fato de que a identificação inicial com o templo ocorre, na grande maioria das casas pela visita aos trabalhos a partir da assistência (pois muitas não adotam cursos ou reuniões breves para os novos frequentadores se adaptarem ao ambiente e cultura da instituição). Adquirimos, por isso, uma compreensão somente externa daquilo que está acontecendo dentro do Terreiro.

Idealizamos as pessoas que se apresentam a nós como referência dentro da casa. Imaginamos momentos significativos de contato com o Sagrado. Esperamos por obter ensinamentos continuados que possam aprofundar o nosso conhecimento da religião e de nós mesmos. Idealizar, imaginar, programar, esperar. Isso tudo é parte natural da nossa introdução a qualquer experiência nova. Seja quando iniciamos um curso qualquer; quando entramos numa universidade; quando entramos numa academia ou iniciamos uma terapia.

No entanto, com o passar do tempo, a realidade se apresenta, podendo nos causar frustrações ou gratificações diversas, em torno das pessoas, da casa e de nós mesmos.

Podemos nos sentir gratos quando alguém nos recebe com alegria, cumprimentando-nos com um sorriso espontâneo; quando um irmão ouve com atenção e paciência as nossas dúvidas ou pensamentos. Quando participamos de um trabalho e presenciamos a emoção de uma pessoa que fora auxiliada; quando observamos e nos tocamos com a fé e dedicação de algum irmão ou de nosso sacerdote. Quando temos a oportunidade de ajudar em alguma atividade da casa.

Da mesma forma, também passamos a identificar disputas internas, entre dois ou mais membros da comunidade. Presenciamos comportamentos questionáveis por parte de alguns. Vemos pessoas afastando-se ou sendo afastadas. Sentimos, nós mesmos, o desejo de nos afastar. Não compreendemos a razão de determinadas posturas, decisões, comportamentos e hábitos de um irmão ou mesmo do nosso sacerdote. Frustração.

Por um outro lado, identificamos em algumas dessas mesmas pessoas (não em todas, pois há aqueles que encontram-se numa condição, embora momentânea, em que talvez tenham como significado somente o de servir como um mau exemplo), valores e condutas que por vezes não reconhecemos em nós mesmos. Devoção. Compromisso. Companheirismo. Carinho. Atenção. Alegria. Respeito. Seriedade.

Outras vezes, a insegurança perante os trabalhos espirituais nos envolve, ao acharmos que fomos colocados em meio ao trabalho sem termos recebido as devidas orientações anteriormente, soando como se tivéssemos que "fazer" ou nos comportar de determinada maneira, simplesmente porque "deve ser assim". Essa despersonalização, causada por ter que repetir posturas e comportamentos sem ter uma noção clara de seus significados, cria, por vezes, sentimentos de estranheza e tédio.

Conquanto, em outras situações, ao participarmos de mais uma noite de trabalhos da casa, podemos receber uma intuição ou mensagem marcante em nosso coração. Surge-nos uma inspiração com uma resposta para determinado conflito ou problema que estejamos vivendo. Saímos do trabalho com um forte sentimento de amparo e conforto para continuarmos em nossa vida comum do dia-a-dia. Reconhecemos a presença sutil, indefinida, porém, certa, de que estamos sendo sustentados e envolvidos por uma dimensão Sagrada e Divina que emana das correntes espirituais presentes no Terreiro a que pertencemos.

Perceba o amigo leitor que tenho intercalado questões contraditórias. Ora, dúvidas, frustrações, questionamentos, receios. Ora, certezas, gratificações, respostas, confiança. Tudo isso para simbolizar o lado Humano e real presente no Terreiro. É essa condição de Humanidade presente dentro do ambiente religioso, com suas contradições, idiossincrasias, virtudes e valores, que nos coloca em contato com a realidade existencial das criaturas humanas.

Cada um, na sua subjetividade, constrói e acumula suas próprias experiências, seja dentro dos templos, seja em sua vida particular cotidiana, as quais resultarão nas bases para o sentido da fé no íntimo de cada fiel. Mas a presença do Sagrado, por meio dos Orixás, Guias e Protetores, é qualificada pelas pessoas humanas que compõem o corpo de adeptos de cada Terreiro. Se temos uma casa onde, apesar da existencia de possiveis conflitos predomina o interesse sincero no trabalho, no auxilio ao próximo, na expressão da fé religiosa, o contato com o mundo espiritual superior faz-se mais intenso e marcante. Se, ao contrário, as relações se estremessem e os conflitos são contínuos, a ponto de dominarem o ambiente, a discórdia e o desinteresse, crescem, promovendo o afastamento da dimensão Sagrada que deveria estar presente ali.

É importante ponderar essas questões para entendermos que a presença dos Guias e Protetores, Santos, Orixás, Mentores de Luz, Espíritos Superiores, Anjos, Espírito Santo, seja lá a maneira como cada templo religioso denomina a presença do Sagrado em seu ambiente, ocorre em função das pessoas que lá estão, pois são elas mesmas a ponte por onde esse mundo transcendente pode acessar a nossa dimensão física, corpórea, humana.

Sendo assim, se por um lado o sentimento da fé é uma experiência particular que surge no interior de cada ser humano como elo sutil entre o homem e o Divino, na experiência religiosa, é somente no contato e vivência com o outro (com o irmão de fé e com o sacerdote) que esta vivência da fé estrutura-se e preenche-se de significado. A fé se constrói na experiência concreta das relações humanas. Quando optamos por experienciar a fé adotando uma denominação religiosa, nos sentimos ligados espiritualmente ao Sagrado na mesma razão em que nos reconhecemos acolhidos e pertencentes ao templo que nos vinculamos.

Os sentimentos de acolhimento e pertencimento à religião e ao templo religioso, são despertados ao longo do tempo e sucedem-se em fases.

Primeiramente, o acolhimento. Ser bem recebido e bem tratado é fundamental para que o neófito sinta segurança e identificação com os frequentadores da casa. Esse processo de acolhimento geralmente se desenvolve no primeiro ano de frequência por parte do novo fiel. É neste período em que ele vai estabelecer os primeiros contatos com os seus irmãos, expor suas necessidades, conflitos (caso os tenha), dúvidas e experiências passadas, Poder contar com irmãos receptivos, atenciosos e desinteressados, sem afetação e emotividade desnecessárias, é importante para que este possa reconhecer-se bem recebido e contando com pessoas que estejam a fim de ouvi-lo e orientá-lo minimamente.

Por isso, as "panelinhas" são tão negativas. Embora seja natural que por questões de afinidades (muitas vezes, momentâneas) as pessoas com identificações procurem-se dentro da casa, estabelecendo vínculos, é preciso que sejam incentivadas (e esse é um papel que cabe à direção e aos orientadores dos grupos de médiuns do terreiro) a conservarem uma postura de abertura junto aos novos frequentadores. Isso porque as "panelas" tendem a isolar os novos entrantes da casa, o que pode gerar um sentimento negativo de insegurança e inadequação nestes.

Em seguida, passados estes primeiros 12 meses (em média) correspondente ao período de adaptação e acolhimento, espera-se que o novo frequentador da casa, possa construir o sentimento de pertencimento àquele ambiente cultural e religioso. Esse sentido, contudo, também depende totalmente da experiência que o adepto realiza com seus irmãos de fé e seu sacerdote. Eu entendo que para nós nos sentirmos pertencendo à religião, ao Terreiro que seguimos, não basta simplesmente um sentimento de fé e de confiança naquela determinada crença e no seu sacerdote. Devemos nos reconhecer como fazendo parte de um meio que possui raizes, histórias, memórias, valores e princípios muito bem consolidados e claros. Essas "coisas" devem ser transmitidas aos novos frequentadores e lembradas aos que já possuem mais ou menos anos de casa.

Penso que devemos, todos nós umbandistas que frequentamos um Terreiro, refletir com ponderação e moderada preocupação (e não somente achar que isso é um problema exclusivo da direção da casa), quando uma pessoa decide se afastar de nossa casa. Será que é simplesmente "falta de fé" ou "falta de compromisso"? Ou será que as relações humanas não estão sofrendo com conflitos e posturas nocivas, muito embora pontuais, impedindo que se crie ou amplie os sentimentos de acolhimento e pertencimento que são tão importantes na formação da identidade religiosa por parte do fiel?

Quando há uma centralização e interdição muito forte e presente dentro do Terreiro, em relação ao conhecimento histórico, às memórias, afetividades e ensinamentos pertencentes a este, torna-se também difícil o reconhecimento íntimo de que pertencemos àquele lugar. É simples. Como posso fazer parte de algo, de um lugar ou de um grupo de pessoas sobre os quais sei muito pouco ou nada sei? Talvez essa regra não se aplique àquelas pessoas de feição psicológica mais passiva e submissa. Mas, num âmbito mais comum, onde estão as pessoas de capacidade de raciocínio e crítica média, na qual nos encontramos a maioria de nós, simplesmente o sentimento de "estar submetido" ou "entregue" a algo ou alguém não satisfaz mais.

Mas também não quero desconsiderar a responsabilidade individual dos frequentadores, sejam os novos ou antigos, em relação as suas escolhas de se manterem ligados ou de se afastarem do Terreiro. Com tudo isso o que disse, não estou querendo colocar tudo sob a responsabilidade dos "outros". Se irá permanecer, e de que maneira irá permanecer; assim como se irá embora, e de que maneira acontecerá isso, é também responsabilidade do indivíduo.

Não serão incomuns os dias que, ao chegar no seu terreiro e saudar os irmãos, praticamente não ouvirá ninguém lhe respondendo de volta. Isso faz parte (embora não justifique). Porque o tempo nos acomoda e nos torna distraídos para determinadas coisas. Entretanto, sempre haverá um sorriso fraterno e educado o suficiente para lhe retribuir o cumprimento. Que pequenas coisas possam bastar para a nossa satisfação enquanto percebermos significados reais e propósitos duradouros naquilo que escolhemos seguir.

Haverá várias oportunidades em que nos depararemos com conversações infelizes ao nosso redor, provocadas por irmãos distraídos, dentro do ambiente do terreiro. Mantenhamos o silêncio respeitoso, de nossa parte. Não nos deixemos contaminar e reflitamos que também nós por vezes também agimos de maneira infeliz e necessitamos da paciência e do silêncio de outros para também nos suportar os momentos de desequilíbrio e infelicidade.

Possivelmente, nos veremos cercados por irmãos fazendo brincadeiras desnecessárias e nos convidando para irmos ao barzinho ali, depois dos trabalhos. Reflitamos a respeito de suas propostas e condutas, e analisemos se a presença em determinados ambientes são compatíveis com alguém que acabou de sair de um trabalho espiritual. Vale lembrar que essas pessoas estão equivocadas e não nos devem servir como parâmetro, nem seus hábitos e valores devem ser aceitos e adotados por nós. Tão pouco, esses comportamentos e preferências, embora reais e presentes em muitas pessoas, representam os verdadeiros valores e propósitos de vida a que a Umbanda nos convida.

Certamente, passaremos por ocasiões em que o deboche, a fofoca e o queixume nos cheguem aos ouvidos. Não nos deixemos levar. Entrar nesta vibração nos envenena o coração e enfraquece nossas forças, paralisando-nos. Por outro lado, desculpemos o comportamento irrefletido do nosso próximo. Analisemos se o que diz, e até que ponto daquilo que está falando é útil ou tem veracidade. Tiremos o que serve para nós, o resto deixemos ir embora com ele. E, de nossa parte, não nos permitamos, a nós mesmos, sermos também veículo dessas palavras que desestimulam, criam descontentamento e conflitos entre irmãos de fé.

Devemos conservar uma postura de tolerância e compreensão, sempre. Reconhecendo os valores positivos que cada um traz consigo, de maneira a nos tornarmos mais próximos, moralmente e psicologicamente, dos demais. Tenhamos sempre uma atitude de compaixão e empatia. Educação e respeito. Sobriedade e disciplina. Silêncio e serenidade. Porém, não deixemos jamais de buscar corrigir em nós e também em nossos irmãos, com tranquilidade e singeleza, as expressões menos felizes e condutas inadequadas quando elas se apresentem e estejam dentro de nosso alcance. Para aqueles que pouco ou nada podemos fazer, principalmente os mais velhos de casa que prosseguem numa postura irresponsável e desrespeitosa, deixemos eles a cargo e responsabilidade dos dirigentes, sem nos abalar com seus maus exemplos, no entanto, sem, em momento algum, sermos coniventes e compartilhadores de suas posturas, hábitos e ideias.

E, por fim, pensemos antes e acima de tudo, a respeito de nossos próprios propósitos e conduta. É importante conservarmos uma postura madura e responsável, independente da casa a que optarmos por nos vincular, buscando ser úteis, cooperativos e conciliadores. Não significa fazer de conta que não está vendo situações que lhe causam desconforto e conflitos. Mas é, apesar disso, saber se posicionar perante esses acontecimentos e pessoas, e prosseguir sua caminhada, dando valor a outras coisas que lhe sejam mais internas e menos centradas no comportamento alheio.

Observemos a conduta do nosso próximo, compreendendo as suas diversas formas de apresentação, por se tratar de um ser humano, com virtudes e defeitos, porém saibamos guardar para nós somente o que for bom e saudável. E, sempre, cuidemos principalmente de nossas próprias expressões, pensamentos e palavras, para que estejamos seguros, éticos e coerentes com nossos próprios princípios diante da seara que optamos por seguir, dentro das Leis de Umbanda.

Saravá!

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A Visão de um Adepto: Conversão Religiosa e Conduta

Por: Gregorio Lucio

Tenho o costume de acompanhar os canais no Youtube, fóruns de discussão e hangouts que tratam da Umbanda. São uma fonte interessante de informações e possibilidades de troca e enriquecimento quando os programas elaborados obedecem a um sistema simples de transmissão de conhecimento, temáticas, idéias e possibilidades de vivência da Umbanda diferentes daquelas que conheço.

Contudo, participei de uma conversação (hangout) que me fez parar pra pensar e tratar da questão da postura do Umbandista diante da sociedade, pois essa conversa em video que assisti simboliza muito dos ditos adeptos da religião que já tive oportunidade de conhecer (inclusive, hoje cedo, viajando de metrô, tive oportunidade de ouvir a conversa de três pessoas, na qual um deles, que se dizia umbandista, tentava também explicar as "coisas" da religião para os amigos).

O apresentador do video, como dizia anteriormente, embora a sua intenção louvável de abrir um canal na internet e trazer "esclarecimentos" sobre a religião, assume uma postura e expressão que reflete em muito a de vários indivíduos do nosso meio. O assunto era "mistificação" (ou, marmotagem, como diz-se popularmente). O apresentador, de roupa branca e guias no pescoço, desfecha uma montanha de palavrões e xingamentos, tal como se estivesse numa mesa de bar de quinta categoria, enquanto tentava dizer que aqueles (os mistificadores/marmoteiros) denigrem a religião de Umbanda e colaboram para a sua discriminação...

Pois bem, é verdade. Mas, e a postura dele? Seu linguajar chulo, agressivo e desrespeitoso? Qual a sua credibilidade para tecer críticas sobre os outros?

Da mesma forma, o rapaz no metrô que estava tentando explicar a religião e falar da "grande fé e confiança" que tinha em sua religião, há momentos antes, dizia em alto e bom som os maiores disparates contra seu chefe e alguns de seus colegas de trabalho (que não estavam presentes ali), além da "cachaçada" que havia participado no último fim de semana...

Bom, não sei quanto ao leitor, mas eu vejo que ainda predomina um conceito em muitos núcleos umbandistas de que "o que o indivíduo faz fora do terreiro não importa" desde que "cumpra as obrigações para com o seu terreiro, os seus Guias e Orixás". Sinceramente, eu discordo dessa visão.

Mais do que nunca, nosso meio religioso precisa adentrar neste tempo contemporâneo e trazer consigo valores mais amplos e que impliquem numa aquisição de consciência ética por parte de seus adeptos.

Não é mais admissível, numa época em que discutimos tanto a questão da ética na política de nosso país; num momento em que tanto falamos e cobramos valores que demonstrem nobreza de caráter e conduta moral sadia por parte dos nossos representantes, que os umbandistas (naturalmente, não são todos, é claro) apresentem-se na sociedade de maneira tão baixa, distraída e irresponsável.

Fico imaginando as pessoas que estavam ao redor daquele rapaz, meu "irmão de fé", hoje pela manhã no metrô, assim como aqueles que ocasionalmente poderão vir a assistir ao video de tamanha infelicidade de seu apresentador...Não me espanta o fato de tantas pessoas rechaçarem uma aproximação com a Umbanda. Apesar do preconceito histórico que existe em relação a cultura afro-indígena, das quais a Umbanda é herdeira, é de se pensar se muito deste ranço negativo, deste desprezo e destas ressalvas que muitos cultivam para com nossa religião em parte também não são estimulados pelas posturas e condutas que o próprio umbandista assume diante da sociedade.

Certa vez, indiquei uma pessoa, por pedido da própria (pois não tenho costume de ficar indicando terreiros para as pessoas), pois esta estava passando por um problema sério em sua vida (conjunção de complicações graves de saúde, com cirurgias recentes e tratamento para depressão, morte de pessoa próxima na família, perda de propriedades familiares, etc), a procurar um dos terreiros de Umbanda de meu conhecimento. A pessoa foi ao local, participou de duas giras (2 trabalhos no espaço de 2 semanas), e não voltou mais. Após um tempo, quando reencontrei a pessoa, perguntei-lhe se ela havia continuado a ir na casa, se estava realizando o tratamento, etc (até então, desconhecia o ocorrido), ela respondeu-me que havia comparecido aos trabalhos, que havia gostado da casa, achado bonito, etc., mas que não gostaria de voltar porque havia visto um grupo de médiuns da casa fumando despreocupadamente e fazendo piadas na porta do terreiro.

De minha parte, eu aquiesci com a escolha dela, baixei minha cabeça em sinal de respeito, disse que compreendia sua decisão e o máximo que poderia fazer era pedir desculpas por eles...

A Umbanda precisa sair do seu reino encantado e murado que envolve os terreiros e passar a ser a fonte de princípios e valores que efetivamente estejam incorporados a vida de seus adeptos. Do que adianta "incorporar" uma entidade espiritual se o indivíduo não é capaz de incorporar em sua conduta regras básicas de boa educação e saúde? Do que vale anos de preceito, obrigações, guias no pescoço, frequentar giras e mais giras, tomar banhos disso e daquilo e mostrar-se na sociedade de maneira tão relaxada e grosseira? Isso não é um comportamento aceitável, embora a sua realidade, para uma pessoa que se diz religiosa.

A religião, no seu sentido mais elementar, propõe justamente o rompimento do indivíduo com o "mundo". Ou seja, a aquisição de uma crença religiosa pede ao indivíduo um afastamento dos hábitos, determinados círculos sociais (e até mesmo determinadas pessoas) que anteriormente faziam parte de sua vida. É uma ruptura mesmo, na qual seja possível abrir um campo psicológico para o distanciamento do "homem velho" e surgimento do "homem novo" que iniciará sua jornada na vida religiosa. Esse momento de ruptura com o mundo, de afastamento do passado para dar campo e surgimento de comportamentos novos, mesmo que ainda superficiais, ocorre por meio da conversão. A conversão é a mudança qualitativa na consciência do indivíduo.

Agora, isso parece não estar ocorrendo no íntimo de muitos de nossos irmãos. Adota-se a crença na religião de Umbanda, assume-se compromissos, realizam-se preceitos e mais preceitos... mas o indivíduo permanece de mãos dadas com os comportamentos e hábitos psicológicos que sempre carregou.

Será que não estamos conseguindo atingir o "coração" das pessoas que se integram a cada dia em nossas fileiras, entregando-as e a nós mesmos a uma estrada de fantasias? Será que não estamos rumando para um farisaísmo moderno?

Não trata-se de moralismo, nem de pieguismo. O fato da Umbanda ser uma religião aberta e não dogmática, que não cerceia e não "doutrina" seus adeptos, não significa que estes devam ver-se como se estivessem completamente descompromissados ou desvinculados das noções básicas de ética, moralidade e educação mínimas que uma pessoa que diz ter compromissos religiosos e uma proposta de espiritualidade deve seguir, independente do credo que espose.

Até quando continuaremos a presenciar nossos irmãos de fé apresentando-se de maneira tão mundana e até grotesca, empunhando copos de cerveja, maços de cigarro, posando para fotos em porta de bares, com vocabulário chulo, atitudes anti-éticas no ambiente de trabalho?

Há quem vá dizer: "Eu conheço pessoas de outras religiões que também se portam assim".

Eu respondo: E isso é desculpa para que o umbandista se mantenha no mesmo nível de conduta daqueles que erram? O erro do outro serve para balizar o comportamento do umbandista? Porque todos saem pra beber, o umbandista precisa sair junto? Ou, pior: o umbandista é quem vai organizar a bebedeira?

Há, ainda, outro que pode dizer: "Mas a religião não é para os doentes? Se a pessoa já fosse tão correta, para que ela precisaria da religião?"

Eu devolvo: Sim, é para os doentes. Mas é para o doente ser curado e não para se reforçar a doença que ele tem, fazer de conta que ela não existe ou de que irá resolver-se magicamente, com obrigações,  banhos, etc. Principalmente no que diz respeito às questões emocionais perturbadoras e negativas para a saúde. Temos que nos tornar uma religião de bom senso,  de razoabilidade,  de verdade. Não um culto infantil, repleto de fantasias e crendices. Ou seja, a vivência religiosa deve ser uma porta de acesso ao mundo íntimo do adepto, pela qual ele mesmo entre e possa se auto examinar. Mais que isso. A vivência religiosa deve ser a base para que o adepto possa construir uma consciência crítica sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca, de maneira que possa avançar nas etapas de sua existência, como sujeito maduro e equilibrado. Quando isso não se verifica, demonstra que há falhas neste processo.

Penso num tempo em que não terei mais que ouvir, como sempre ouço, tantas pessoas que após anos e anos de busca e vivência dentro da Umbanda, em dado momento cansam-se, "despertam" e convertem-se a outras religiões, aparecendo até mesmo em programas de TV para dizer que "durante anos andou enganada", "servindo ao Diabo", "estava iludido", etc. Ou, quando não terei mais que responder a determinadas pessoas: "Pra que serve a Umbanda?".

Você, irmão umbandista, que ainda sofre com a sombra "homem velho" dentro de si. Embora a Umbanda não seja uma religião bíblica, gostaria de lhe propor este exercício psicológico. Pergunte-se, o que você quer ser? Quer ser Saulo, homem rude como muitos de sua época e cruel perseguidor dos cristãos? Ou quer ser Paulo, o convertido na Estrada de Damasco e propagador das ideias cristãs? Você está aqui, como Umbandista, para ser "igual a todo mundo", um "cego guia de outros cegos" ou está aqui para, como Umbandista, ser uma luz, uma referência e o portador de uma mensagem de esperança para aqueles que estão perdidos?

Saravá!