quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Mediunidade na Umbanda e no Kardecismo: Características no Trabalho Mediúnico

Por: Gregorio Lucio

O texto de hoje endereça um tema muito questionado, principalmente por pessoas que passaram pelo Kardecismo e foram para a Umbanda, e vice-versa.

Não gosto muito de escrever a respeito do tema, porque, em geral, essa temática está muito ligada a visões particularistas (e até sectaristas) por parte de alguns adeptos de ambos os movimentos religiosos em questão, sempre implicando em discussões infrutíferas e intermináveis a respeito.

No entanto, após conversar com alguns amigos mais próximos, pertencentes a seara espírita e atendendo à sua solicitação, até para poder contribuir com material para o estudo em seus grupos de estudo mediúnico e nas Escolas de Médiuns de suas casas,  gostaria de compartilhar com todos alguns apontamentos básicos, não pretendo nem quero me aprofundar no tema, embora haja muita coisa interessante para se pensar e pôr em questão,  os quais julgo serem de relevância para a estruturação de um saber que possa ser de interesse para todos os amigos que se dão ao trabalho de ler essas humildes e despretensiosas linhas.

Para isso, me utilizarei nessa análise, além de estudos e reflexões feitos por mim, da minha humilde e apagada vivência como médium, tanto no Kardecismo quanto na Umbanda. Então, espero ser compreendido pelos meus amigos das “duas correntes”, nesta jornada espiritual.

Pois bem, Umbanda e Kardecismo: Características no Trabalho Mediúnico.

Primeiramente, sempre é relevante lembrar uma questão básica sobre a mediunidade. Mediunidade não é dom. Mediunidade é uma condição humana conquistada pela evolução dos espíritos ao longo das eras, do avanço da consciência e da mente espiritual desde os reinos inferiores ao humano, a qual foi se desenvolvendo na experiência contínua que nós realizamos, como Espíritos, entre o mundo espiritual e o mundo corpóreo, por meio do processo da reencarnação. De origem espiritual, portanto, a mediunidade, no ser humano encarnado, caracteriza-se por uma faculdade mental, a qual já carregamos, desde que nascemos, como um potencial a ser desenvolvido, educado, e que se expressa por meio dos recursos psíquicos e orgânicos de que todos os seres humanos são portadores.

Se entendermos a mediunidade como uma condição natural, fruto do desenvolvimento humano, veremos que uma mesma pessoa, portadora de mediunidade, pode experimentar e expressar sua sensibilidade espiritual tanto na seara umbandista, quanto na seara kardecista. Isso sem falar que a pessoa pode expressar essa sensibilidade espiritual em outras religiões também. Mas, falando dessa possibilidade, especificamente dentro destas duas religiões em questão, podemos observar uma prova disso no constante “trânsito” – que aliás é até histórico – existente entre pessoas que iniciam sua trajetória no Kardecismo e transferem-se para a Umbanda, assim como a recíproca também é verdadeira.

Embora em momentos diferentes da sua trajetória dentro da religião de Umbanda ou da Doutrina Espírita,  é possível, sim, a pessoa “trabalhar” tanto numa quanto noutra. Há ainda aqueles, embora mais raros, que lidam naturalmente com a prática mediúnica exercida, ao mesmo tempo, na Umbanda e no Kardecismo.

Portanto,  no meu ponto de vista, e diante do que já explanei a respeito da mediunidade, não há uma diferença humana entre o médium de umbanda e o kardecista. Não há uma “mediunidade de umbanda” e uma “mediunidade kardecista”, que cada pessoa traga desde nascença. Médium é médium, em qualquer condição ou lugar. Pensando do ponto de vista humano, o que vai fazer uma pessoa ser “médium de umbanda” ou “médium espírita” são suas afinidades psicológicas, sua história pessoal, o contexto cultural e familiar no qual está inserido e, até mesmo, as tendências inconscientes que este pode trazer de seu passado espiritual (vivências em outras encarnações). Dentro da sua busca espiritual nesta encarnação, o indivíduo irá simpatizar e vincular-se com aquela que mais diga respeito ao seu mundo interior, o que poderá variar de acordo com os momentos e fases da sua vida, o que é natural.

De igual forma, a questão do mundo espiritual envolvido nas práticas de Umbanda ou Espiritistas. Não há dissenções entre os “Espíritos de Umbanda” e os “Espíritos Kardecistas”. Entre os Numes Espirituais, há a superação dos rótulos e estigmas que existem no mundo dos homens, pois eles encontram identificações que  se pautam na conduta moral e no desejo do Bem e da Fraternidade Universal.  Os benfeitores e mentores de luz auxiliam toda a humanidade, independente de qualquer cultura religiosa, do sistema político, social, econômico. Das tribos milenares nativas da Namíbia, até as grandes sociedades tecnológicas do chamado “primeiro mundo”, em todo o lugar, os Espíritos Iluminados se encontram, ajudando e inspirando a todos na direção do aprimoramento espiritual.

Contudo, conforme já disse em textos anteriores, nem sempre isso quer dizer que os mesmos espíritos que amparam e tutelam um terreiro de Umbanda necessariamente também dirigem um Centro Espírita. Quando dizemos que não há diferença entre os Benfeitores, devemos  com isso entender que eles são iguais e que desenvolvem seus trabalhos seguindo um mesmo princípio. Um Mentor que se manifesta numa sessão espírita não é “superior” a um Guia de Umbanda que vem trabalhar numa gira. Mas, no mundo espiritual, os Espíritos se agrupam por afinidades variadas, inclusive culturais. Podemos observar isso quando observamos a descrição do Espírito Clara Nunes (a cantora), na psicografia transmitida por intermédio de Chico Xavier, quando ela narra a sua passagem para o mundo espiritual e é conduzida a uma região em que estariam muitas pessoas afins à cultura umbandista. De igual maneira, na obra “Quando se pretende falar de vida”,  também psicografada por Chico Xavier, o Espírito do jovem Roberto Muzkat, descendente de família judaica tradicional, descreve seu despertar no mundo dos espíritos e relata a sua “estadia” junto de seu avô e outros familiares, também desencarnados, numa região espiritual onde se congrega uma comunidade imensa de judeus.

Ué...sendo assim...então é tudo igual?! O Trabalho Mediúnico na Umbanda e no Kardecismo são idênticos?!

Não. Não é isso.

No meu ponto de vista penso que devemos entender que as diferenças entre o Trabalho Mediúnico na Umbanda e no Kardecismo se dão na forma e no método de que cada uma se vale para a prática do intercâmbio espiritual.

Focarei meu olhar para falar do fenômeno de Incorporação que se realiza no mediunismo de Umbanda e na Psicofonia (também chamada de Incorporação) no trabalho espírita.

A partir daqui, tentarei desdobrar um pouco, brevemente, e pontuar onde estão algumas destas diferenças.

Primeiro, precisamos considerar dois elementos importantíssimos para entendermos o mecanismo mediúnico que ocorre na ligação do médium com o Espírito que vai se manifestar. Refiro-me ao Corpo Espiritual e aos Chakras (centros de força).

O corpo espiritual, conforme também já tratei em outros textos, é o intermediário entre o Espírito e o Corpo físico. É ele o responsável por receber as impressões que geramos, como Espíritos, e “comunicá-las” ao corpo físico. No sentido inverso, também. As sensações e percepções experimentadas pelo corpo físico, são gravadas no Corpo Espiritual e “repassadas” ao Espírito. Tudo isso, estou colocando de maneira bem simples, sem me aprofundar muito nos mecanismos mais complexos que envolvem essas interligações.

No Corpo Espiritual temos Centros de Luz, também chamados Centros de Força ou Chakras, os quais são pontos luminosos que possuem um formato circular que vibram e que irradiam intensa luminosidade. Esses Centros luminosos, são responsáveis por estabeleceram conexões com áreas correspondentes em nosso corpo físico. Seria da energia irradiada destes centros de luz que nosso corpo retira a sua vitalidade, a sua saúde, a sua manifestação. Segundo as tradições milenares que os estudaram e identificaram (como o Hinduísmo),  possuímos 7 centros principais, que se ligam desde o alto da cabeça (o coronário), na nossa “coroa”, até a base da coluna ( o chacra básico), passando pela região entre os olhos (chakra frontal), da garganta (chakra laríngeo), do coração (chakra cardíaco), do baço (esplênico), do umbigo (umbilical) e genital (chakra genésico).

Falando em termos básicos, a ligação entre o médium e o Espírito ocorre, primordialmente, por intermédio do Corpo Espiritual (também chamado de Períspirito, na linguagem kardeciana). Há um “encaixe” de vibrações que ocorrem entre o corpo espiritual do médium e o Espírito que irá se manifestar. Quando o médium está concentrado, em oração, ele expande o potencial de vibração do seu corpo espiritual, e dessa forma, é possível que o Espírito que vai se manifestar possa sintonizar-se, num mesmo padrão de frequência e vibração, e “imantar-se” a ele. Essa ligação entre o médium e o Espírito ocorrerá pela sintonização e manipulação do Espírito aos Chakras (os centros de força) que estão localizados no Corpo Espiritual do Médium, conforme já disse. Essa ligação irá  produzir o “estado de transe” no médium e, consequentemente, a incorporação.  E isso é tanto para o médium de Umbanda, quanto para o médium Espírita.

Dito isso, passemos ao Método e a Forma pela qual se processam os Trabalhos Mediúnicos.

No Kardecismo, de maneira geral, as sessões mediúnicas em que há o fenômeno da Psicofonia (incorporação) ocorrem em pequenos grupos, as quais se dão em locais específicos e fechados ao público, chamados de câmaras mediúnicas.

O grupo de trabalho fica disposto em círculo ou em torno de uma mesa e, aí vem uma questão chave dentro das diferenças do mecanismo mediúnico: o médium desenvolve seu trabalho sentado.

E o que tem a ver isso?

Tem a ver que no momento em que o médium está sentado, ele diminui drasticamente a possibilidade da ligação espiritual com os chakras “inferiores”: esplênico, umbilical e genésico.

Dentro do contexto em que ocorrem as práticas mediúnicas do Kardecismo, há uma total intenção, do grupo como um todo, manifestada neste método de trabalho, de que as comunicações ocorram exclusivamente utilizando-se dos chakras “superiores” (o termo superior aqui, não significa “melhor”, mas se refere a localização do chakra em relação ao corpo físico). Ou seja, a ligação do Espírito ficará restrita aos centros Coronário (alto da cabeça), Frontal (entre os olhos), Laríngeo (garganta) e Cardíaco (coração). Isso direciona a comunicação e o contato espiritual para um nível quase que totalmente mental, em que há predominantemente, a troca mais ou menos sutil, de pensamentos entre o médium e o Espírito. Não se abre a possibilidade para que o espírito influencie no comando do corpo do médium.

Para entender o porquê disso é necessário esclarecer, ou lembrar, que o objetivo das reuniões kardecistas que se utilizam da incorporação é, principalmente, o de servir para a comunicação de espíritos sofredores, obsessores, ou que tenham qualquer tipo de necessidade de esclarecimento e orientação. Assim, o Mentor do médium influencia seu chakra coronário, abrindo seu campo mediúnico, primeiramente. Após isso, é acoplado o Espírito comunicante (não podemos nos esquecer de que no caso de espíritos sofredores, o processo mediúnico fica a cargo do comando dos Mentores do Trabalho). Ao estabelecer uma conexão com o chakra frontal, por exemplo, o Espírito irá comunicar mentalmente os seus pensamentos ao médium. Ao ligar-se ao chakra laríngeo, haverá a possibilidade do médium manifestar falando (por isso o termo psicofonia) os pensamentos daquele Espírito. E, ao ligar-se ao chakra cardíaco o médium poderá registrar os sentimentos daquele Espírito. O fenômeno mediúnico pode avançar para os chakras “inferiores”, a depender do tipo de comunicação. Por exemplo, num trabalho de desobsessão, um espírito manifestando intensa raiva e agressividade, atinge a ligação com o centro umbilical do médium. No entanto, como ele está numa postura corporal que “inibe” a total manipulação deste centro de força, o potencial de ação da entidade espiritual fica bastante reduzido e, por conta disso, é possível ao Esclarecedor ou ao Dirigente do trabalho dialogar com o Espírito manifestante e intervir, caso seja necessário, desligando-o do médium, para que não haja a junção dos conteúdos e da irradiação nociva da entidade com as expressões psicológicas e orgânicas do próprio médium, o que poderia gerar um descontrole na comunicação mediúnica. Ou seja, a postura corporal do médium, neste método de trabalho, implica numa medida também de segurança e proteção ao medianeiro e ao grupo como um todo.

na Umbanda, há um outro mecanismo mediúnico. Por que o médium na Umbanda trabalha de pé. E isso implica que, ao assumir essa postura corporal, o médium oferece todos os seus Centros de Força para a ligação com os Espíritos que irão se manifestar. Entretanto, a natureza dos Espíritos que irão atuar neste mecanismo é diversa daqueles relatados na prática kardecista. Por ocasião da evocação dos Guias e Protetores pertencentes as Correntes Espirituais de Umbanda, ocorrerá a ligação desta categoria de entidades, as quais operarão, por intermédio do corpo do médium, o seu trabalho espiritual, num nível mais coletivo do que individual. A intenção dos trabalhos de assistência espiritual na Umbanda é o de amparar espiritualmente os necessitados de “ambos os lados” da vida, servindo-se de um amplo potencial energético produzido nos ritos, pela conjunção das irradiações mentais da corrente mediúnica e da corrente astral, intensificadas pela utilização de recursos ritualísticos (pontos, firmezas, velas, fitas, guias, ervas, flores, etc.) e naturais pertencentes ao templo. 

O Guia espiritual se liga aos centros de força do médium e manipula estes centros, de maneira que ele consiga projetar a irradiação do médium, amplificada pela do próprio Guia, sobre o campo espiritual das pessoas necessitadas (desencarnadas ou encarnadas) que estejam sob a ação dessa irradiação coletiva que está sendo produzida no ambiente , estejam elas no ambiente físico ou não, permitindo que seja feita uma “leitura” e uma “intervenção” nas condições físicas, emocionais e espirituais de cada necessitado. Essa mecânica desprende uma grande quantidade de energia vital do médium, pois o transforma num agente de intensa propagação de fluidos espirituais e num grande atrator de cargas e entidades negativas que estejam sob seu campo de influência mental. No entanto, esse processo ocorre, justamente por que está sendo conduzido por uma Entidade capacitada para isso,  sem que haja a desestabilização do médium.

De igual maneira, quando há o atendimento individual de um assistido que necessite de um trabalho específico, ao aproximar-se o médium do consulente, há a interligação dos centros de força do médium aos centros de força do assistido, facultando que as entidades espirituais possam ler o campo espiritual daquela pessoa e projetar, usando a energia vital do médium, os fluidos espirituais que irão influenciar os centros de força do beneficiário, contribuindo para que possa se fortalecer e se harmonizar. Ao mesmo tempo, o médium assimila para si os excessos e os miasmas (aglomerados de energias densas) que estavam no campo espiritual do assistido, os quais serão, em seguida, desintegrados ao contato com a irradiação de seus guias espirituais e dos paramentos ritualísticos de que se utiliza (guia, fitas, pontos, velas, etc.).

Outra questão importante, o Animismo. O Animismo é o nome que damos para o fenômeno em que ocorre a manifestação das expressões que são do próprio médium, se sobrepondo às expressões do Espírito manifestante. A expressão anímica é tida como um fenômeno espontâneo e não-intencional do médium (caso contrário, seria uma mistificação) a qual pode interferir e até prejudicar a manifestação espiritual.

Por conta disso, na prática Kardecista as expressões do médium devem ser bastante estudadas e educadas para que não se sobressaiam no momento da comunicação, impossibilitando que haja uma identificação do Espírito que se manifesta, prejudicando a qualidade no atendimento espiritual e a qualidade do trabalho como um todo. Na Umbanda, também há essa preocupação para que as expressões e os impulsos do próprio médium não interfiram no trabalho espiritual.

No entanto, a expressão anímica na Umbanda é de primordial importância para que haja a elaboração psicológica, por parte do médium,  da manifestação das entidades espirituais que trabalharão por seu intermédio. A dança (quem dança é o médium, não é o Espírito), a gestualidade, as expressões corporais como um todo, são símbolos vivos e dinâmicos que comunicam a “presença” das entidades no médium. É necessária essa construção do imaginário das entidades, que se opera dentro da vivência ritualística, porque os Espíritos trabalhadores na Umbanda não se presentificam com as suas identidades individuais, conforme ocorre nas sessões espíritas. Os Guias e Protetores da Umbanda revestem-se de “roupagens”, de formas de apresentação construídas por eles, as quais comunicam mensagens espirituais significativas e para que sua identidade particular seja anulada. O conceito de Linhas, Falanges e Correntes Espirituais na Umbanda, traz essa noção de seres que anulam suas particularidades para se unirem a um processo maior e mais amplo do que suas individualidades. Eles elaboram, junto com os seus médiuns, uma “Mística”, portadora de intensa carga psíquica, a qual colabora para que, no momento da expressão anímica do médium, ocorra essa total integração do Espírito aos centros de força do médium. E por isso, é fundamental que haja uma grande porção da expressão anímica do médium, entretanto canalizada inteligentemente, no mediunismo.

Mais uma, a questão do Passe.

No passe espírita, o médium passista tem uma orientação para se colocar de maneira a doar seu fluido vital, de maneira padronizada e sem a incorporação mediúnica, estabelecendo um contato intuitivo (ou seja, servindo-se da ligação sutil no chakra frontal) com os Mentores que assitem-no no momento do passe. Não há a penetração do médium passista no campo espiritual  do assistido. Na linha de passe umbandista, há a conexão direta entre o médium passista (que atua incorporado) e o campo espiritual do assistido. De tal sorte que é possível ao médium receber as impressões do estado físico, identificando áreas do corpo específicas que precisem receber uma irradiação mais direcionada, o estado emocional e a condição espiritual em que se encontre o assistido. Há uma troca muito intensa do que vai da projeção mental do médium incorporado com o que vem do campo espiritual do assistido. Talvez seja isso que fizesse com que se criasse a impressão de que passe na Umbanda é “mais forte” do que o passe Espírita, o que não traduz uma realidade a respeito.

Para finalizar, a Importância na firmeza espiritual do trabalho.

Estar concentrado e totalmente focado no ambiente dos trabalhos em que se desenvolvem as atividades espirituais é de fundamental importância para toda e qualquer pessoa que faça parte de um grupo mediúnico. Seja na Umbanda, seja no Kardecismo.

A postura mental positiva, moralizada, serena e disciplinada, é imprescindível para seja possível esse contato eficiente e profundo com os Guias Espirituais.

Por isso, a sempre requisitada educação e disciplina para os médiuns.

Evitar bocejar demasiadamente. Não emitir sons guturais ou de qualquer outra espécie que perturbem e interfiram na concentração dos que compartilham do ambiente de trabalhos.

Cuidar da aparência, vestir-se com dignidade e de maneira coerente com as regras da sua Casa.

Cuidar da higiene do corpo físico e da saúde emocional.

Vigiar os seus pensamentos, saber identificá-los e corrigi-los, deixando de lado aqueles que surjam espontaneamente e que sejam perturbadores, imorais, ou de qualquer outra natureza que estejam inadequados ao momento do trabalho (sem ficar brigando consigo mesmo, somente não se fixando a eles). Para isso, basta recorrer ao recurso da prece e da mentalização tranquila da imagem de Jesus.

Cuidar das suas palavras e das suas expressões, nunca relaxando na sua postura e no seu comportamento, pois deve-se recordar de que está na Casa de Deus (o centro espírita ou o terreiro), num templo Sagrado, e não numa roda de bar.

Lembrar-se sempre dos necessitados, doentes e aflitos que buscam consolo na casa em que pertence e não merecem ouvir e ver nossas manifestações desrespeitosas e vulgares.

Manter o silêncio no momento de uma prece.

Chegar cedo aos trabalhos. Porque o estado de agitação, devido ao atraso, interfere na produção espiritual.

O estado interior de serenidade e de concentração, fundamentais para a firmeza de qualquer médium, não se improvisa em 5 minutos.

Que Jesus esteja com todos os amigos.

Fraternalmente.

domingo, 5 de janeiro de 2014

A Visão de um Adepto: O Templo Religioso como Ambiente Educativo

Por: Gregorio Lucio 

Toda instituição edificada sobre princípios éticos e morais, promovendo a transformação para melhor daqueles que formam a sua comunidade, torna-se, obrigatoriamente, em um Ambiente Educativo, Cultural e Filantrópico, no qual se é dada uma nova proposta e significação para a existência humana. 

Sendo assim, o conjunto de experiências e atividades que constituem o ensino religioso promovido dentro do Templo, formam o manancial de sentidos que cada frequentador deve encontrar para a sua própria jornada, nos diferentes momentos de sua existência. 

O templo religioso é uma verdadeira “escola de almas”

Ou seja, ele deve contribuir para a construção de novos hábitos, para a modificação de comportamentos arraigados, aprimorando o caráter de seu frequentador, fomentando a troca do “homem velho para o homem novo”uma vez que é imprescindível a reforma interior no adepto para que este esteja integrado a um novo olhar e atitude perante a vida, os quais lhe serão possibilitados pela vivência religiosa. Assim, o templo precisa estar inserido de maneira atuante na dinâmica da vida de relação das pessoas de sua comunidade, produzindo uma vivência religiosa possível de ser integrada na realidade de mundo que circunda o seu frequentador. 

Quando o templo religioso não provoca essas modificações ou falha nesse quesito, não realizando um acompanhamento junto a seus frequentadores e, principalmente, junto aos seus trabalhadores, permitindo que essa atitude de pequenas ações pela melhora seja postergada indefinidamente, o efeito disso é a identificação igrejista da instituição religiosa de Umbanda. 

E o que isso quer dizer? Quer dizer que o frequentador passa a ver o templo somente como um ponto de expressão de seu sentimento religioso. Um lugar para onde vai, junto com outras pessoas, viver experiências que ele não percebe como tendo profunda participação no restante de sua vida diária. Muitas vezes até, essa vivência no templo pode tornar-se composta de intenções particularistas e momentos absolutamente egoístas, pois não há vínculos com sentidos mais amplos naquela experiência. 

Penso que os templos religiosos, mais especialmente aqueles pertencentes ao movimento umbandista, devem se preocupar em oferecer uma possibilidade de vivência interligada à vida cotidiana de seus adeptos. Porque me parece frustrante e descompensador frequentar-se uma “gira” e participar-se de um trabalho espiritual, os quais se repetem dia após dia, conforme ocorre dentro destes templos, e verificar que tais práticas possuem frágeis conexões com aquilo que vivo e experiencio fora do ambiente religioso. Vê-se, atualmente, no dia-a-dia de  muitos templos umbandistas, práticas e discursos que encontram-se repletas de crenças mágicas e imaturas atribuições de expectativas sobre os Guias Espirituais, os Orixás, Deus... demonstrando pobres e incompletas relações com a realidade psicológica do ser humano. Quando muito, o que se vê em muitas casas são pálidas tentativas de se relacionar a vida com alguns poucos minutos de ensinamentos evangélicos ou ético-morais, de maneira geral, mas que não deixam de ser lições um tanto superficiais e até desconexas do cotidiano. 

O papel da Instituição Religiosa é, mais do que servir como um lócus cultural para a expressão do religioso, fornecer um conjunto de princípios norteadores para a vida. E essa função inerente ao templo religioso só pode ocorrer por meio da Educação. 

Curiosamente, quando falamos de Educação, observamos um preconceito latente no imaginário das pessoas. O de que a Educação é algo que só se aplica às atividades da infância e da juventude. Como se os ambientes e as atividades que são frequentados, predominantemente, por adultos não necessitassem da aplicação de princípios e métodos educativos.

A palavra Educação (conforme já tratamos em outro texto) deriva de dois termos do latim “Educare” e “Educere”. Educare significa orientar, nutrir, decidir externamente, direcionando o indivíduo a se transferir, de um determinado ponto em que se encontra até outro ponto onde se deseja chegar. Educere, por sua vez, implica num movimento interior, fazendo surgir do intimo do indivíduo as potencialidades que estão dentro de si e que até então permaneciam desconhecidas.

Naturalmente, existem variações no método educacional de cada templo religioso, contudo, aqueles trabalhadores que constituem a direção da instituição e aqueloutros, incumbidos do ensino, da orientação aos neófitos e da organização das práticas da casa, devem ter esse olhar cuidadoso para observarem as expressões dos seus frequentadores e companheiros de atividades, nunca fatigando-se ao trabalho de corrigir e orientar qualquer manifestação de comportamento menos feliz ou inadequada, sempre com tranquilidade, brandura e educação, embora com austeridade.

Os trabalhadores devem adquirir consciência de seu papel dentro do ambiente religioso, de acordo com suas atribuições e, aqueles que compõem o corpo da direção e da organização da casa, devem também assumir a postura e a condição premente de educadores. Pois, a função do educador é despertar o impulso de auto-educação do educando. O processo de educação é sempre um processo de auto-educação. E, acima de tudo, que a atitude do ensino venha sempre acompanhada do exemplo. Não existe processo de ensino-aprendizagem sem a justa exemplificação prática.

Porque se meu companheiro pronuncia uma palavra infeliz ou faz uma piada inadequada e eu dou risada junto com ele, ou frequento locais onde ele me vê compartilhando de seus mesmos hábitos, como vou poder corrigí-lo dentro do templo religioso? Aí é que surgem os recursos falidos da educação, como seja o grito, o gesto agressivo, a palavra que fere e que, muitas vezes, atinge também aqueles que nada tem a ver com o comportamento alheio.

Como diria o Espírito Bezerra de Menezes: “Ensinar, mas fazer; crer, mas estudar; aconselhar, mas exemplificar; reunir, mas alimentar”.

O adepto deve, então, encontrar no templo religioso um ambiente consolidado em princípios educativos, no qual lhe seja possibilitado avançar de um ponto a outro em suas questões existenciais e produzir modificações interiores, sinalizadas por momentos simbólicos. A passagem de um grau de iniciação a outro, por exemplo. A amplitude de sua participação em atividades específicas da casa. Por exemplo, existem Centros Espíritas e Templos de Umbanda, nos quais não é permitida a participação do trabalhador que traz determinados hábitos (se fumante, se se alcooliza, se alimenta-se mal) em trabalhos de saúde e cura. A depender do comportamento manifesto do adepto (aqui, dizendo mais especificamente em relação aos trabalhadores da casa) e de como esse empreende a sua modificação (ou não), o seu nível de acesso as atividades e atribuições dentro templo, ficam mais ou menos restritos. 

Sendo assim, a Educação no ambiente religioso é a aplicação de um processo sistêmico de inserção e desenvolvimento de uma série de habilidades e valores no campo psicológico de seus frequentadores, facultando mudanças positivas, tanto intelectuais, quanto emocionais e sociais. 

Se um novo filho do terreiro chega à casa e identifica que o padrão de comportamento dominante das pessoas é o de se portar de maneira cordata, moderada, respeitosa, denotando hábitos saudáveis, naturalmente, este se sentirá impelido a proceder da mesma forma, mesmo que lhe faltem, naquele momento, conquistas mais profundas neste sentido. Seus hábitos ainda estão arraigados. Suas expressões grosseiras e impulsivas ainda estão consigo. Seus vícios ainda o inquietam. Mas, o ambiente não lhe permite expressá-los, contribuindo para que se veja induzido a ajustar-se a este novo meio, possivelmente, lapidando essas arestas e, gradualmente, abrindo-lhe espaço para novos hábitos, pensamentos e comportamentos.

De outra maneira, caso seu atual nível de consciência ainda não o permita reconhecer o ambiente e comportar-se adequadamente, naturalmente o ambiente e a postura de seus irmãos de terreiro o neutralizarão em suas expressões, porque não encontrará identificação com a qual possa se alimentar, reforçando-se. Ou, caso não se sinta confortável e suficientemente resoluto em abraçar essa nova proposta, naturalmente, este indivíduo retrocederá, permanecendo como frequentador do templo, mas não vinculando-se a responsabilidades maiores, o que é compreensível.

Agora, se este filho de fé chega com a sua canga de hábitos, vícios, má formação em sua educação do lar, etc., e encontra um ambiente onde impera a indiferença e/ou a omissão daqueles que deveriam servir-lhe como educadores (ou mesmo quando há a boa intenção de orientar, mas sem a devida qualificação e métodos para isso), onde ele possa livremente se expressar e, ainda, contando com companheiros que reforcem esses seus desajustes, consequentemente, fica muito difícil (embora nunca impossível) que ela vá se melhorar, de maneira significativa, a curto e, muito menos, a longo prazo. 

Existe um pensamento de Allan Kardec, que este utilizou para definir o “autêntico espírita” e que eu julgo oportuno apresentar: 

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar as suas más inclinações” (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XVII) 

Gostaria de pedir licença ao nobre educador lionês (sim, Allan Kardec era professor e pedagogo) para ampliar essa frase e colocá-la ao alcance de todo e qualquer religioso sincero e verdadeiro, incluindo aí a nós, como umbandistas: 

“Reconhece-se o verdadeiro religioso pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar as suas más inclinações”. 

Isso porque esse deve ser o resultado positivo a ser alcançado por todo aquele que pratica uma religião, seja ela qual for. 

Particularmente, não me é concebível uma pessoa passar décadas num dado ambiente religioso e não se modificar de maneira profunda, permanecendo com os seus maus hábitos mais pueris e exteriores. Sempre que isso acontece, automaticamente evidencia-se um fracasso no processo educativo, mesmo considerando-se a possibilidade do livre-arbítrio de cada um. 

Cito Jesus, como o Educador Sublime, o qual nos mostra as mais sólidas regras de Educação. 

Vemos, em diversas passagens dos Evangelhos (Mateus, 12:32, 16:23, 23:27, 52:53; Lucas 3:7, 22:31-32, 17:3, 12:27-28; Marcos 9:19, 14:32-41 e outros) a disciplina e a austeridade de Jesus no trato para com seus discípulos e inquisidores. Isso nos serve como contraposição a visão romântica de que o ser “Iluminado”, na condição de mestre e orientador, é aquele que adota o perfil “bonzinho”, “melífluo” e que “finge que não está vendo” o que ocorre ao seu redor. Jesus agia com brandura e doçura para com os ignorantes, doentes e esfomeados, mas em contrapartida, tratava com severidade e exigência os seus discípulos (pois estes haviam optado por seguí-Lo e dar testemunho das obras dEle e, por isso, deveriam se portar de maneira coerente ao seu Mestre). Não há um só momento em que, observando comentários e atitudes inadequadas de seus discípulos, Jesus prontamente não os tivesse corrigido e chamado a atenção.

A essência ética da Pedagogia de Jesus está contida no Amor. Mas não nesse amor revestido de romantismo piegas de novela, abobalhado. 

O amor de Jesus Cristo é verdadeiro e se expressa como uma postura exigente e que incita a modificação. 

Confessar amor a Jesus Cristo está íntima e obrigatoriamente ligado em assumir uma vinculação integral a uma proposta ética que lança o individuo a um novo patamar de vida nos seus aspectos individual e coletivo. Isso é muito diferente deste “Cristianismo adocicado” (como dizem alguns teólogos) que mistura frases do Evangelho, conceitos de auto-ajuda e de empreendedorismo norte-americano, conforme andamos vendo proliferar nos núcleos religiosos cristãos da nossa sociedade. 

Ligar-se a Jesus é ter visão crítica e ética da realidade de si mesmo e daqueles que o cercam, tal qual Ele houvera tido. 

Não é uma postura de acordos ou de trocas com o mundo, e muito menos com Deus, pela qual eu moldo minha religiosidade e minha espiritualidade de acordo com aquilo que me é conveniente, sem abrir-me ao esforço da modificação de meus hábitos arraigados e das minhas falhas morais. 

Olharmos a vida de Jesus, contida nos Evangelhos, é percebermos que nele há uma constante postura educativa, repertoriada por diferentes tipos de linguagensNa Sua ética, não cabe a conivência com o erro e a mentira, conquanto sempre Ele tivera também as palavras, os ensinamentos e o convite para que cada um olhasse não só para as suas debilidades e as chagas morais que todos carregamos, mas também para os potenciais de evolução de que somos portadores, se, e somente se, optarmos por abandonar uns e abraçarmos outros. De outra forma, estaremos sempre em desacordo com a Educação do Cristo. 

Vícios e Virtudes não caminham para o mesmo lado, seguindo sempre sentidos opostos e que levam a consequências também opostas. 

Com Jesus, aprendemos que tolerar e compreender não é “fingir que não está vendo o erro”. Ser bom “não é deixar de corrigir e repreender”. 

Portanto, não se pode haver uma permissão, mesmo que tácita, dentro do templo religioso, para que expressões cristalizadas dos hábitos negativos que “cada um traz de casa” encontrem morada e se espalhem em um comportamento dominante de seus frequentadores. 

Essas situações, inclusive, concorrem para que haja a abertura para a entrada, no templo religioso, daqueles seres que habitam o mundo espiritual inferior e que não querem a melhora real e o beneficiamento profundo das pessoas, iludindo-as quanto a sua verdadeira condição interior. Promover o cultivo da ignorância e a acomodação, insuflar o desrespeito em forma de deboche para com o líder e as regras da casa , a conversação malsã, são maneiras que os adversários das sombras utilizam-se para promover o bloqueio espiritual daqueles que se deixam influenciar pelas suas sugestões, tentando estender o seu raio de ação sobre todos. 

Por isso é que a vivência no ambiente religioso deve servir justamente para que estas expressões possam ser objetivamente cerceadas (cortadas), dando a idéia clara para o frequentador, principalmente se for um trabalhador, de que aquela maneira de se portar, de falar e até mesmo de se vestir não são bem-vindas, pelo menos no ambiente interno à Instituição, cumprindo-lhe adequar-se

Mesmo não sendo possível e nem conveniente perquirir e exigir-se o comportamento do adepto em sua vida privada - no seu ambiente profissional ou no seu lar - resguardando-se à consciência de cada um a análise sincera para identificar se aquilo que expressa no ambiente religioso é coerente com o que manifesta em sua vida particular, é impostergável manter o ambiente interno do templo a salvo destas ervas daninhas, como as expressões desequilibradas, desrespeitosas, maledicentes, agressivas, viciosas, relaxadas, irresponsáveis e irrefletidas de qualquer natureza, que possam colocar em descrédito a instituição, colaborando para o afastamento daqueles mais sinceros e interessados, fragilizando - conforme o tempo em que perdurem - o senso moral de seus frequentadores e, além disso, maculando o nome da religião e a memória daqueles que tanto lutaram, durante anos a fio, para a consolidação daquela instituição e de seu trabalho de natureza superior. 

Para isso, é imprescindível uma atitude clara de austeridade e a comunicação constante, sem enfado e nem perturbação, da não conivência para com posturas inadequadas e situações que desvirtuem a proposta religiosa do templo. 

O Templo não é feito para os Guias, é feito para as pessoas. Os Benfeitores do Espaço vivem livres pelo Cosmo e não dependem de quatro paredes. Portanto, mais do que um mero ponto de convívio social. Mais do que um local onde se presta a chamada “Caridade”. O templo religioso deve ser colocado a um nível que seja capaz de dialogar com as aspirações humanas. Discutir a questão da morte, dos desafios da vida em família, da vida em sociedade, dos cuidados com a saúde, dos dramas interiores, do papel do umbandista no mundo, da ética religiosa, etc. Proporcionando assim que o seu frequentador tenha uma clara percepção psicológica de que a sua atividade religiosa possui conexão com a sua vida, num todo coerente, exigindo de si uma postura condizente dentro e fora do ambiente do terreiro. 

Saliento que o terreiro deve, necessariamente, servir como um local no qual o indivíduo encontre uma nova proposta de vida. Não deve servir, somente, como um lugar para cumprir meras formalidades da sua vida social-religiosa, mediante a sua presença física desvinculada da emocional e o descompromissado comparecimento a festejos e comemorações. 

Fraternalmente.