segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Da Experiência Religiosa

Por: Gregorio Lucio

Pensando a respeito da experiência religiosa, cada qual vivencia-a de maneira diferente, conforme o sujeito identifica-se (ou não) e relaciona-se com os símbolos, ritos e discursos pertinentes ao campo religioso ao qual encontra-se vinculado.

Difícil pensar que todos os pertencentes a uma dada comunidade religiosa relacionem-se com a experiência espiritual de uma mesma forma. Alguns encontram maior sentido na vivência religiosa, por meio do trabalho comum e diário, mesmo que simples, no silêncio de um pequeno grupo dentro daquela comunidade (como participar da organização do depósito, auxiliar na limpeza, na lanchonete, a cuidar dos jardins, da biblioteca, das atividades da secretaria, etc); outros, vivem a sua religiosidade no desempenho do trabalho social (nos projetos e atividades de atendimento aos que chegam necessitados de amparo de todo o tipo); outros ainda, identificam-se espiritualmente estando presentes nas celebrações religiosas, pelo encantamento produzido pela liturgia, por ver a casa cheia de pessoas, comungando sentimentos e expectativas, na experiência coletiva daquilo que chamamos de fé.

Geralmente, costuma-se eleger os trabalhos de "ordem espiritual" (aliás, o que é "espiritual" e o que é "material"? não é no trabalho da matéria que o espírito se aprimora?) como estando em um grau de importância acima de outras atividades realizadas dentro da comunidade religiosa.

Mas, será que esse labor, muito nobre e respeitável, evidentemente, teria um significado tão grande se a fachada da instituição estivesse suja ou mal conservada, os banheiros descuidados e sem cadeiras limpas e suficientes para acomodar os seus visitantes? A presença espiritual seria tão intensa se a casa não possuir pelo menos um recurso mínimo para amparar alguém que lhe chegue necessitado de uma roupa nova e um pouco de alimento?

Sabemos, portanto, que todas as atividades têm a sua nobreza e funcionam em um conjunto interdependente, para que a obra produzida pela experiência religiosa possa ser exaltada e dar frutos de melhoria interior para as pessoas que dela compartilham.

No entanto, o que importa, de fato, é que a comunidade religiosa ofereça espaços para acomodar essas diversas formas que cada um possui de vivenciar o sagrado, sem com isso eleger formas "melhores" ou mais "corretas". Porque o sentido da religiosidade que se vivencia é construído ao nível subjetivo e não coletivo. Assim, nem sempre a maneira com que uma pessoa vivencia sua fé tem o mesmo significado e validade para outra. Querer colocar a todos num mesmo balaio é, naturalmente, fazer com que sempre fiquem pessoas de fora.

Como costumo dizer, nem sempre estar de corpo presente no trabalho espiritual significa que espiritualmente também se está.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Corpo e Percepção Mediúnica


Por: Gregorio Lucio

Dúvida comum: "Eu estava incorporado(a), mesmo?"

Fosse há algum tempo atrás, eu responderia: "Se está com dúvida, é porque não estava" (sim, já fui mais radical em minhas opiniões..rs).

Digo isso porque a experiência mediúnica é intimamente inconfundível. A experiência pode até ser questionável para um observador externo, no entanto, para aquele que a vivencia, o contato mediúnico é sempre marcante e, muitas das vezes, bem difícil de ser explicado em palavras em um discurso racionalizado.


Mas, o que desejo abordar, neste breve texto, é a questão de como podemos perceber a experiência mediúnica em nós (naturalmente, uma pessoa "de fora" não tem como avaliar as percepções subjetivas de outrem). Vejo que há algumas crenças envolvidas no processo da experiência mediúnica, as quais acabam por criar expectativas que mais atrapalham do que ajudam o indivíduo na sua vivência como médium, principalmente quando se está iniciando. 


Muitos esperam que experiências surpreendentes e fabulosas vão ocorrer tão logo estejam "atuados" pelas entidades espirituais.


Por exemplo, é muito comum acreditar-se que no contato mediúnico vai se perder a consciência, "apagar e dormir", somente despertando na hora do término do trabalho. Isso é uma crendice muito presente em centros e terreiros por aí. Embora até pode ser verdade que determinados médiuns do passado, em condições excepcionais, tenham vivenciado esse tipo de experiência, hoje essa condição não é predominante em 99,999%(pra não dizer 100%) dos médiuns trabalhadores (seja na umbanda, seja no kardecismo). Ou seja, deixemos de lado essa expectativa de acontecimentos fantásticos e mágicos.


A experiência mediúnica, ao contrário, deve ser a mais tranquila e serena possível. Diria até que o ideal, do ponto de vista da educação mediúnica bem orientada e saudável, é que o médium seja capaz de "entrar e sair" do estado mediúnico de maneira imperceptível para quem o observa. Nada de tremiliques, saltos, gritos, saculejos, fungadas, suspiros, esgares, arrotos, etc.


Cada vez mais, quanto mais vivencio a condição de médium e estudo esta faculdade, inclusive minhas experiências próprias, bem como de amigos que compartilham e dialogam com interesse sobre o tema, mais estou convencido de que a mediunidade é uma faculdade mental de nível superior, estando a disposição de qualquer pessoa, desde que bem educada e com um nível de consciência desperto para essa vivencia.


Quando atingimos o estado mediúnico, nos dias de trabalho, por meio do contato com os mentores e espíritos amigos, nossas percepções mentais se afloram, desencadeando uma condição psicológica de serenidade, de entrega e interiorização lúcidas, as quais, por fim, vão provocar uma reação orgânica que nós podemos perceber por meio de sensações corporais. Sim, pois nós nos esquecemos de que como médiuns, nós estamos encarnados, estamos imersos num corpo físico, e as nossas percepções vão sempre passar pelos filtros de nosso cérebro e, claro, de nosso corpo. Ficamos, a todo instante, a "buscar" sensações "fora" do nosso corpo. Ficamos tentando alcançar, perceber e entender coisas na dimensão espiritual, estando encarnados. E isso não é possível. Isso mais atrapalha do que ajuda na hora do trabalho mediúnico. Os espíritos, Guias e Mentores, esperam que nós estejamos ali para entregarmos o que podemos justamente nesta condição de seres encarnados num corpo físico.

Então, quando falo das sensações corporais que decorrem do estado mediúnico, refiro-me, por exemplo, àquela sensação de leveza que sentimos no peito, ao mesmo tempo, um "calorzinho bom e suave" emanando de nossas mãos e rosto. Aquele "formigamento" no alto da cabeça, descendo pelas costas. As pernas que parecem "flutuar". É disso que falo...coisas simples, mas que se conectadas a experiência psicológica e ao estado mental adequados, disciplinados e saudáveis, produzem esse sentido de estar-se, inconfundivelmente, em contato com a dimensão espiritual, comungando com os Espíritos Mentores.


Enfim, amigos, perceber-se em estado mediúnico, é reconhecer-se, espiritualmente, dentro de seu corpo.