sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Corpo e Percepção Mediúnica


Por: Gregorio Lucio

Dúvida comum: "Eu estava incorporado(a), mesmo?"

Fosse há algum tempo atrás, eu responderia: "Se está com dúvida, é porque não estava" (sim, já fui mais radical em minhas opiniões..rs).

Digo isso porque a experiência mediúnica é intimamente inconfundível. A experiência pode até ser questionável para um observador externo, no entanto, para aquele que a vivencia, o contato mediúnico é sempre marcante e, muitas das vezes, bem difícil de ser explicado em palavras em um discurso racionalizado.


Mas, o que desejo abordar, neste breve texto, é a questão de como podemos perceber a experiência mediúnica em nós (naturalmente, uma pessoa "de fora" não tem como avaliar as percepções subjetivas de outrem). Vejo que há algumas crenças envolvidas no processo da experiência mediúnica, as quais acabam por criar expectativas que mais atrapalham do que ajudam o indivíduo na sua vivência como médium, principalmente quando se está iniciando. 


Muitos esperam que experiências surpreendentes e fabulosas vão ocorrer tão logo estejam "atuados" pelas entidades espirituais.


Por exemplo, é muito comum acreditar-se que no contato mediúnico vai se perder a consciência, "apagar e dormir", somente despertando na hora do término do trabalho. Isso é uma crendice muito presente em centros e terreiros por aí. Embora até pode ser verdade que determinados médiuns do passado, em condições excepcionais, tenham vivenciado esse tipo de experiência, hoje essa condição não é predominante em 99,999%(pra não dizer 100%) dos médiuns trabalhadores (seja na umbanda, seja no kardecismo). Ou seja, deixemos de lado essa expectativa de acontecimentos fantásticos e mágicos.


A experiência mediúnica, ao contrário, deve ser a mais tranquila e serena possível. Diria até que o ideal, do ponto de vista da educação mediúnica bem orientada e saudável, é que o médium seja capaz de "entrar e sair" do estado mediúnico de maneira imperceptível para quem o observa. Nada de tremiliques, saltos, gritos, saculejos, fungadas, suspiros, esgares, arrotos, etc.


Cada vez mais, quanto mais vivencio a condição de médium e estudo esta faculdade, inclusive minhas experiências próprias, bem como de amigos que compartilham e dialogam com interesse sobre o tema, mais estou convencido de que a mediunidade é uma faculdade mental de nível superior, estando a disposição de qualquer pessoa, desde que bem educada e com um nível de consciência desperto para essa vivencia.


Quando atingimos o estado mediúnico, nos dias de trabalho, por meio do contato com os mentores e espíritos amigos, nossas percepções mentais se afloram, desencadeando uma condição psicológica de serenidade, de entrega e interiorização lúcidas, as quais, por fim, vão provocar uma reação orgânica que nós podemos perceber por meio de sensações corporais. Sim, pois nós nos esquecemos de que como médiuns, nós estamos encarnados, estamos imersos num corpo físico, e as nossas percepções vão sempre passar pelos filtros de nosso cérebro e, claro, de nosso corpo. Ficamos, a todo instante, a "buscar" sensações "fora" do nosso corpo. Ficamos tentando alcançar, perceber e entender coisas na dimensão espiritual, estando encarnados. E isso não é possível. Isso mais atrapalha do que ajuda na hora do trabalho mediúnico. Os espíritos, Guias e Mentores, esperam que nós estejamos ali para entregarmos o que podemos justamente nesta condição de seres encarnados num corpo físico.

Então, quando falo das sensações corporais que decorrem do estado mediúnico, refiro-me, por exemplo, àquela sensação de leveza que sentimos no peito, ao mesmo tempo, um "calorzinho bom e suave" emanando de nossas mãos e rosto. Aquele "formigamento" no alto da cabeça, descendo pelas costas. As pernas que parecem "flutuar". É disso que falo...coisas simples, mas que se conectadas a experiência psicológica e ao estado mental adequados, disciplinados e saudáveis, produzem esse sentido de estar-se, inconfundivelmente, em contato com a dimensão espiritual, comungando com os Espíritos Mentores.


Enfim, amigos, perceber-se em estado mediúnico, é reconhecer-se, espiritualmente, dentro de seu corpo.

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