quarta-feira, 31 de julho de 2013

Os Boiadeiros na Umbanda Branca

Por: Gregorio Lucio 

Outra corrente muito atuante na Umbanda, principalmente nos terreiros localizados na região sudeste e sul do Brasil, os Boiadeiros representam uma ampliação da simbologia espiritual do Caboclo. As manifestações dessa corrente, historicamente, remontam a um período anterior aos Baianos e aos Marinheiros, pois diziam respeito, na sua expressão, ao arquétipo do homem sertanejo, o primeiro descendente da mistura do homem branco com o índio, na fusão de raças que ocorreu em nosso país.

Os Espíritos que se ligam às correntes dos Boiadeiros trazem os símbolos que representam indivíduos que quando em vida participaram da vida no campo, no trato com a terra e com o gado. Simbolizam a figura do homem rude e humilde, de mãos calejadas e caráter austero. Sabemos também que os espíritos boiadeiros dizem respeito a todos os povos das estradas, aqueles em cuja história migraram por regiões as mais diversas, enquanto consolidavam sua trajetória e estruturavam as suas bases sociais. Temos notícia destes povos desde as épocas bíblicas, conforme podemos no lembrar da história de Moisés e a peregrinação pelo deserto com todo o povo Hebreu, em busca de Canaã, a terra prometida. 

Em muitos terreiros, os Boiadeiros são entendidos como sendo regidos por Ogum e Iansã, mas há também Casas em que estes se identificam com São Benedito, São João Menino, São Cipriano, Nossa Senhora Aparecida, Santa Ana, entre outros Santos e Orixás. Existem terreiros em que a corrente dos Boiadeiros é confundida com a dos chamados Mineiros, que seriam manifestações espirituais muito parecidas. 

Uma característica muito marcante entre os Guias e Protetores pertencentes a essas correntes é que eles seriam Espíritos detentores da Doutrina espiritual. Por conta disso atuam diretamente sobre os espíritos que vagam perdidos, desorientados ou que estejam ligados à pessoas, famílias ou coletividades, causando perturbação, doenças e outras influências negativas. Também por isso, regidos pelos Mentores que atuam sobre a aplicação das Leis de Ação e Reação no Mundo Espiritual, estes trabalhadores são exímios conhecedores das demandas espirituais e se encarregam da proteção das “costas” dos médiuns, dos terreiros a que estejam vinculados, assim como de lares e coletividades inteiras. 

Podemos entender essa questão ao analisarmos as simbologias que são trazidas em seus Pontos Cantados e nas “ferramentas” (laço, chicote, berrante, espora, capote, etc.) que estas entidades expressam quando estão trabalhando na gira ou quando se fazem notar pela clarividência. O “boi”, a “boiada”, representam as situações graves, as demandas espirituais a que estes Guias estão incumbidos de suportar e dominar, exercendo total controle e comando, por ação de sua força espiritual e de sua fé irretocável. De igual forma, o “garrote perdido”, imagem muito recorrente em diversos Pontos Cantados, representa o trabalho do Boiadeiro de atuar sobre os Espíritos perdidos, obsessores, quimbandeiros, que estejam ameaçando a integridade das pessoas ou o ambiente espiritual dos trabalhos dentro do Templo umbandista, afastando-os ou exercendo domínio sobre estes, para que sejam encaminhados as zonas espirituais que lhe sejam de merecimento, o que tanto pode ser para uma Caravana de Resgate quanto para as regiões de escuridão da onde vieram, caso não estejam ainda em condições de receberem auxílio direto. 

Outras referências que estão muito presentes no imaginário que envolve e compõe a mística em torno dos Boiadeiros são os elementos da Natureza e a sua manipulação pela ação do trabalho do homem. Terra, Arado, fogueira (fogo), chuva, geada, matas, as estradas, os moinhos, representam o domínio que estes Espíritos tem na manipulação das energias naturais e o conhecimento que eles tem sobre a ação do tempo, principalmente no que se refere à Lei de Ação e Reação, a Lei do Retorno. 

As Correntes dos Boiadeiros, ao contrário do que muitos pensam, não são compostas somente por espíritos masculinos, mas também pelas Boiadeiras, expressões femininas dentro dessas Legiões de Luz. Embora sejam raríssimas as Boiadeiras, são as Amazonas, e estas também atuam trazendo sua força espiritual para junto de seus protegidos e para os templos a que estejam ligadas. Conhecem rezas fortes, e realizam evocações sublimes dos seres da natureza, conhecem benzimentos centenários e, conforme já o dissemos, possuem grande conhecimento das Leis que regem o Mundo Espiritual. 

Dessa forma, são os Boiadeiros aqueles que lidam na linha de frente nos choques com as energias maléficas que são emanadas das falanges que habitam nas Trevas. São eles quem primeiro descem às estradas desertas das regiões de dor e sofrimento para levarem auxílio e resgatar os que se arrependem e despertam de seus tormentos na dimensão espiritual. Assim como também são eles que estão encarregados de frear e deter incisivamente a ação daqueles que almejam o mal do próximo utilizando-se da violência direta ou das armadilhas sutis da maledicência, da mentira e da injúria. 

Como resultado de sua ação nas dimensões do trabalho espiritual, enquanto atraem e isolam entidades negativas, os Boiadeiros desmancham acúmulos negativos que estejam no ambiente, nos corpos dos médiuns e das pessoas na assistência, as quais tenham sido gerados pelo contato com a aura enferma destas entidades perturbadoras. 

Do ponto de vista psicológico, lembramos sempre que todas os Guias Espirituais, ao comungarem das irradiações dos pensamentos que são trocados entre eles e nós, seus médiuns, agem como impulsionadores, como motivadores do despertar de nossos próprios conteúdos positivos, que muitas vezes permanecem inconscientes, despercebidos em nós. Assim, os Boiadeiros contróem, ao longo do transe que dão a seus médiuns, ideias e imagens que despertem a Fé em Deus e na Vida como um todo, a Firmeza de Propósitos, a Clareza de Objetivos, a necessidade da Disciplina para conquistar a mudança de que necessitamos, depositando e deixando conosco a Luminescência de sua irradiação vigorosa, deixando despertos em nossa consciência os pensamentos que nos incentivem na conquista de posturas positivas de seriedade, de respeito e nobreza de caráter, cujo valor é claramente reconhecido e admirado por esses Guias da Aruanda Maior. 

Pelo seu caráter Aguerrido, sua Perseverança, sua Fé inabalável, estão sempre próximos de nós, em pensamento, nos incentivando em nossas orações, incentivando que vigiemos os nossos pensamentos e atitudes, sempre sustentando nossas rogativas de paz, amor, sabedoria e serenidade, para que estas possam chegar ao Coração de Nossa Senhora, em sua benévola intercessão junto a Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Vibremos e Oremos junto destes Irmãos da Vida Maior, sempre sabedores de que “com Boiadeiro não se brinca”. 

Jetruá Boiadeiro! 

Saravá a todos!

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