terça-feira, 30 de abril de 2013

Os Orixás nos Ensinos de Jesus - Oxum

(trecho de capítulo da obra Umbanda Pé no Chão, autor Norberto Peixoto) 

Jesus e os Ensinamentos dos Orixás contidos nos Evangelhos

Maria de Nazaré [Oxum], mãe de Jesus, foi o grande exemplo de fé e de entrega absoluta à vontade do Pai. Ela amou tanto o seu filho único que jamais O impediu de cumprir Sua missão; pelo contrário, O guiou com seu amor e sofreu com Ele o martírio infamante da cruz. Em retribuição a esse amor, Jesus deixou a João, o Evangelista, Seu discípulo mais amoroso, a incumbência de substituí-Lo nos cuidados com Maria.

OXUM é o amor-doação, o equilíbrio emocional, a misericórdia e a compaixão. Mãe das águas doces, Oxum possui uma força de penetração fora do comum na natureza humana: é a “psicóloga” nata. Corresponde à nossa necessidade de equilíbrio emocional, concórdia, complacência e reprodução (não necessariamente reproduzir no sentido físico, mas no emocional que liga a mãe ao rebento vindouro). O amor-doação de Oxum é aquele que faz a caridade ao próximo, que agasalha, alimenta e reconforta.

[No Evangelho de Mateus (11:28-30)] Jesus, o psicólogo das almas, diz: “Vinde a mim todos vós, que estais cansados e aflitos, e vos aliviarei, porque o Meu fardo é leve e Meu jugo é suave”. Em Mateus: 25, volta a dizer: “Vinde, benditos de Meu Pai, possuí o Reino que vos está preparado desde o princípio, porque eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede e de destes de beber; andava estranho e me acolhestes; estava nu e me vestistes; estava doente, e me visitastes; estava preso e me viestes ver”. E ao ser abordado pelos justos: “Quando foi, Senhor, que te vimos com fome, com sede, estranho, nu, doente e preso, e te acudimos?”, Jesus respondeu: “Em verdade vos digo, tudo o que fizestes ao menor de meus irmãos, a mim é que o fizestes!”.

Portanto, o Cristo interno não despertará em nós, se não ajudarmos a despertar externamente o Cristo no próximo. Essa é a grande Lei da Polaridade Cósmica. São Francisco, Gandhi, Chico Xavier, e tantos outros, encontrando o Cristo nos outros, encontraram-no em si próprios.

Esta é a máxima da caridade: auxiliar e servir aos necessitados, porque só assim estaremos realizando a caridade em nós mesmos. Conforme disse São Francisco de Assis: “É dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado”.

Há mais felicidade em dar do que em receber. O beneficiado recebe o bem que faço, mas o benfeitor se torna bom pelo bem que faz, e antes de realizar qualquer bem no outro, ele o realiza em si mesmo. O amor se manifesta por meio da caridade; sendo assim, o meu amor cresce com a minha caridade.

São Francisco beijou as chagas fétidas de um leproso, escolheu o sofrido e ínfimo irmão de Jesus e, nesse momento, realizou em si o nascimento de Cristo, rompendo a rigidez que o separava de sua verdadeira auto-realização. Ao romper com o ego humano, exultou o Eu Divino.

domingo, 28 de abril de 2013

Os Orixás nos Ensinos de Jesus - Iemanjá

(trecho de capítulo da obra Umbanda Pé no Chão, autor Norberto Peixoto)

Jesus e os Ensinamentos dos Orixás contidos nos Evangelhos

IEMANJÁ é o respeito, o amor, o despertar da Grande Mãe [arquétipo feminino da criação] em cada um, a percepção de que somos co-criadores com o Pai, podendo gerar a “vida”. Jesus tinha o princípio do masculino e do feminino (animus e anima) em Sua essência divina, em perfeito equilíbrio interno. Hoje, temos uma visão totalmente distorcida e masculinizada do princípio feminino. Deus na realidade é: Deus-Pai-Mãe-Espírito. Temos dificuldade de penetrar na essência do feminino, que é a emoção, a doçura, a compaixão. É a energia que flui, a essência da doação, da harmonia, da vida em perfeito equilíbrio com a natureza, que espera com paciência, em seu próprio ritmo.

Na vibração do amor, tudo se harmoniza e permite que vejamos e aceitemos as pessoas como elas realmente são. Amar é abrir o coração sem reservas, desarmar-se, entregar-se e doar-se. As águas representam as nossas emoções...

- “Quem é minha mãe e que são meus irmãos, senão aqueles que fazem a vontade do Pai?”, disse Jesus demonstrando que Seu amor ampliava-se à toda humanidade, para nos ensinar que, rompendo os grilhões do parentesco carnal, formamos uma única família universal.

Iemanjá, em sua vibração divina, cria os seus filhos para a vida, para que sejam cidadãos do mundo, respeitando a sua individualidade. Mãe zelosa, quer e visa unicamente ao bem de sua coletividade. É considerada a Grande Mãe porque acolhe também os filhos adotivos, de outras mães. Num terreiro de umbanda é agregadora dos grupos, o sentido de união, o humanitarismo, a procriação no sentido de progresso e prosperidade.

Vovó Maria Conga nos esclarece: “O amor compreendido e praticado é como um pintor que reproduz obras que favoreçam a todos que são abrangidos pelo seu raio visual, provocando o desenvolvimento de novos valores internos, modificando os quadros mais íntimos de cada um, com as novas tintas e pincéis das conquistas realizadas em favor do outro”.

Sendo assim, surge a caridade com si mesmo, que restaura no indivíduo a sua dignidade psíquica, levando-o a superar o momento de dificuldade na conquista do alimento, da manutenção do lar, da educação e da saúde por meio do próprio esforço. É o “ensinar a pescar” que propicia o alimento sempre.

O mar é o nosso maior provedor de alimentos e pulsação da vida – este é o sentido de prosperidade. No seu movimento de fluxo e refluxo das marés, limpa, energiza, leva o negativo e transforma-o em positivo, promovendo o equilíbrio.

Jesus reunia-Se com Seus discípulos nos finais de tarde, às margens do mar de Genesaré, para ensinar-lhes sobre o “reino dos céus”, e transformá-los em pescadores das almas. Em Seu diálogo com Maria de Magdala, no livro Boa Nova, psicografado por Chico Xavier, ela diz: “Desgraçada de mim, Senhor, que não poderei ser mãe”. Então, atraindo-a brandamente para Si, o Mestre acrescentou: “E qual das mães será maior aos olhos de Deus: a que se devotou somente aos filhos da carne, ou a que se consagrou, pelo espírito, aos filhos das outras mães?”.

A palavra de Jesus lhe honrava o espírito, convidava-a a ser mãe de seus irmãos em humanidade, aquinhoando-os com os bens supremos das mais elevadas virtudes da vida.

“Vai, Maria! Sacrifica-te e ama sempre! Longo é o caminho, difícil a jornada, estreita a porta, mas a fé remove os obstáculos. Nada temas: é preciso crer somente!”

E Maria de Magdala renunciou aos prazeres transitórios da carne e dedicou-se integralmente a auxiliar os irmãos em sofrimento, aliviando-lhes as feridas do coração, ficando até o fim de sua vida terrena junto aos aleijados e leprosos.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Os Orixás nos Ensinos de Jesus - Ogum

(trecho de capítulo da obra Umbanda Pé no Chão, autor Norberto Peixoto)

Jesus e os Ensinamentos dos Orixás contidos nos Evangelhos

OGUM é a vontade, os caminhos abertos, a energia propulsora da conquista, o impulso da ação, da vontade, o poder da fé, a força inicial para que haja a transformação. É o ponto de partida, aquele que está à frente. É a vida em sua plenitude, a vitalidade “ferrosa” contida no sangue que corre nas veias, a manutenção da vida, a generosidade e a docilidade, a franqueza, a elegância e a liderança.

A energia oriunda da vibração de Ogum pode ser percebida claramente nestas palavras de Jesus:

- “A tua fé te curou” (com a imposição das mãos, Ele acionou o poder da vontade de mudar de atitudes e pensamentos).
- “Pedi e recebereis! Buscai e achareis! Batei e abrir-se-vos-á! Porque todo aquele que pede, recebe”, demonstrando que Deus nos dotou de inteligência e capacidade para que superemos nossas dificuldades, recomendando-nos o trabalho, a atividade e o esforço próprio.

Precisamos aprender a pedir, pois costumamos exigir soluções rápidas e eficazes para problemas de ordem material. Estamos sempre correndo contra o relógio e perdidos entre compromissos assumidos, os quais muitas vezes extrapolam nossa capacidade de cumprir. Esquecemos de cuidar de nossos sentimentos, de ir ao encontro do que nos realiza e nos dá satisfação interior, das coisas simples da vida.

Se acreditamos na reencarnação, então sabemos que tudo é transitório, que estamos na Terra para evoluir em espírito, para superar a nós mesmos. O “pedir”, colocado aqui, é no sentido de “receber” da Providência Divina o ânimo, a coragem, as boas ideias, a fim de que possamos crescer e adquirir a paciência necessária para lidar com as nossas imperfeições e com as dos outros.

Cada problema contém em si mesmo a solução. Tudo está certo como está, pois tudo tem o seu tempo para mudar, crescer e amadurecer. Aquilo que não nos cabe resolver “agora”, confiemos em Deus, pois quando estivermos prontos para compreender, tudo se resolverá. Devemos dar o melhor de nós, com ânimo, entusiasmo e confiança, agradecendo a oportunidade da vida.

- “Orai e vigiai”, pois a oração é o alimento do espírito; ela abre portas para a compreensão, é um bálsamo no momento das dores. A oração abranda nosso coração, nos protege e nos fortalece. A vigilância é a resposta que vem para aquilo que pedimos em oração. Ocorre que geralmente pedimos, e depois não prestamos atenção na “resposta”, porque somos imediatistas. Mas nem sempre a resposta que desejamos ouvir é a que chega até nós, e sim a que necessitamos naquele determinado momento.

Por outro lado, devemos observar que tipo de pensamento estamos alimentando em nossa mente, e o que estamos atraindo. Vigiar no sentido de prestar atenção a nós mesmos, pois buscamos auxílio espiritual na casa de Umbanda, mas o que fazemos com a orientação recebida? Continuamos o tratamento até o final, com [oração], com passes, banhos, água fluidificada, leituras esclarecedoras? Estamos dispostos a mudar nossa conduta? Fazemos uma análise e higienizamos nossos pensamentos e sentimentos? Estamos dispostos a nos desapegar dos sentimentos de culpa, de nos colocarmos como vítimas das circunstâncias, de não participarmos ativamente da nossa “própria vida”?

Ninguém fará por nós o que nós mesmos temos de fazer, assumindo as rédeas da situação e acionando o “curador” interno, pois a felicidade é um estado de espírito.

- “A fé remove montanhas. Pois, em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daí para ali, e ela se transportaria, e nada vos seria impossível”.

Na realidade a fé é ativa; é inspiração divina que nos auxilia a chegar ao fim desejado; é a confiança que fortifica e a certeza de vender os obstáculos. A fé se prega pelo exemplo e precisa ser apoiada na razão, porque é preciso amar e crer sabendo porque se ama e porque se crê. A fé caminha de mãos dadas com a esperança e com a caridade; está intimamente ligada ao poder da vontade, à crença interior de vencer as adversidades pela paciência que traz a compreensão dos fatos.

O Evangelho Segundo o Espiritismo [apesar de não ser uma obra umbandista], nos diz (capítulo 9) que o magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que Jesus curava e produzia aqueles fenômenos singulares, qualificados outrora como milagres. É a vontade dirigida para o bem.

Tudo quanto a nossa mente poderosa acreditar e pedir com intensidade se realizará, pois isso Jesus disse: “Tudo quanto pedirdes em oração, crede que recebereis”.

Ogum representa, portanto, o caminho que precisamos percorrer, aquele caminho solitário para vencer os dragões internos que, na verdade, é o espírito em busca de si mesmo; percorrer o caminho de volta à unicidade com o Pai.

Somente quando aprendermos a amar e compreendermos em nosso espírito esse legado de amor, perdão, compaixão, o não-julgamento, a gratidão pela vida, respeito por nós e pelo próximo, quando usarmos o livre-arbítrio com responsabilidade, não viveremos mais presos ao passado, nem tão pouco angustiados e ansiosos com o futuro, compreenderemos de forma integral que o momento de servir é agora. Jesus participava, servia, ouvia, compartilhava, instruía e amava a todos sem distinção.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Os Orixás nos Ensinos de Jesus - Oxoce

trecho de capítulo da obra Umbanda Pé no Chão, autor Norberto Peixoto)

Jesus e os Ensinamentos dos Orixás contidos nos Evangelhos

OXOCE é o aconselhamento; é o poder da palavra em ação, o caçador de almas, o amor pela Natureza e pela Criação; a necessidade da saúde espiritual e física; a renovação, a nutrição, a prosperidade em todos os sentidos.

A manifestação dessas virtudes pode ser encontrada nas seguintes colocações:

- “Bem-aventurados os aflitos, os mansos, os que são misericordiósos, os que tem puro o coração...”.
- “Esteja no mundo, mas não seja do mundo” pois quando Jesus esteve no meio da dor, da miséria humana, do desespero, do materialismo, da traição, da arrogância, não se deixou contanimar.
- “A boca fala do que está cheio o coração”.
- “Onde está o vosso coração, aí estará o vosso tesouro”.
- “ Amai-vos e instruívos”. [frase contida no Evangelho Segundo o Espiritismo].
- “Não são os sãos que precisam de médico”

A chave do conhecimento tem de virar sabedoria. Pela boca entram os alimentos e saem as palavras que, quando harmoniosas, nos trazem equilíbrio e, por conseguinte, saúde.

- “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o amanhã cuidará de si mesmo”.

Devemos viver um dia de cada vez, o momento presente, que é tudo o que necessitamos, pois é imprescindível cumprirmos nossas tarefas diárias com harmonia e gratidão. A gratidão sincera abre as portas para a manifestação de tudo o que se necessita: criatividade, talento, alimentação adequada, moradia, progresso no trabalho, bons relacionamentos, etc.

O plano divino opera de forma a colocar em nossa vida as pessoas, os lugares e os objetos que responderão às nossas necessidades. A prosperidade e a abundância fazem parte da nossa existência: basta olhar a natureza à nossa volta, observar o Cosmo e a as estrelas. Devemos manter em nossos corações a gratidão a Deus por nossas preces serem ouvidas e nossas necessidades atendidas, pois Ele sabe o que precisamos, e dá “a cada um conforme as suas obras”.

É necessário saber pedir, colocar a intenção no que se quer e ter confiança em si mesmo, na própria capacidade de realização. Assim sendo, as idéias surgem para a resolução dos problemas.

Os Orixás nos Ensinos de Jesus - Xangô

(trecho de capítulo da obra Umbanda Pé no Chão, autor Norberto Peixoto)

Jesus e os Ensinamentos dos Orixás contidos nos Evangelhos

XANGÔ é a sabedoria, o amor e o respeito à vida, em obediência às Leis de Deus; é o entendimento do encadeamento das nossas ações e reações, que estabelecem uma relação de causa e consequência, no sentido de ascensão espiritual; é o equilíbrio cármico.

No Evangelho encontramos as vibrações de Xangô, nas seguintes máximas:

- “Não julgueis para não serdes julgados”;
- “Com a mesma medida que medirdes serás medido”;
- “Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado”;
- “Vá e não peques mais, para que não te aconteça algo pior”;
- “A semeadura é livre, mas a colheira é obrigatória”;
- “Conhece a verdade e ela vos libertará (a compreensão das Leis Morais divinas liberta da roda do carma, das reencarnações sucessivas);
- “Perdoai setenta vezes sete”
- “Ide reconciliar-vos com seu irmão antes de pordes a vossa oferenda no altar”.

É tão fácil perceber a dificuldade alheia, decidir qual atitude o outro deve tomar, resolver os problemas alheios, criticar e espalhar a maledicência...O ser humano não costuma olhar para si mesmo e avaliar a sua conduta diante da vida e do seu próximo. Acertar e errar faz parte desta vida terrena, isto é, ter humildade para reconhecer os erros, perseverança para continuar, e reconhecer o motivo pelo qual cada um está num degrau evolutivo diferente. Não podemos exigir aquilo que o outro não tem para nos oferecer, nem a capacidade para compreender.

Para cada ação, há uma reação, seja positiva ou não. Por isso, é preciso ter flexibilidade diante da vida, ter misericórdia para com a dor alheia, perdoar para se libertar, refletir sobre a capacidade de mudar, perceber qual a facilidade de aprender com a vida, estar em paz e equilíbrio com a Lei Divina para poder receber, por meio do merecimento pelo esforço empreendido para melhorar, as bençãos que deseja alcançar. Fazer o bem e desejar o bem.

Devemos usar sempre a “verdade como proteção” e sermos fiéis a nós mesmos, ouvindo a voz do nosso coração. Mestre Jesus sempre usou a verdade, e em Seus ensinamentos, iniciava Suas frases assim: “Em verdade, em verdade vos digo...”.

O perdão das ofensas liberta dos aprisionamentos do passado, das mágoas e dos ressentimentos, é o bálsamo que cura as feridas da alma. Jesus nos pediu que perdoássemos ilimitadamente, ou seja, sempre. E Suas últimas palavras terrenas foram uma súplica a Deus pela humanidade: “Pai, perdoai-vos porque eles não sabem o que fazem”.

Tanto tempo se passou e nós continuamos fazendo as mesmas coisas, nessa roda viva de incompreensão, violência, desamor, julgamentos e cobranças, vítimas que somos de nossas inconsequências, apegados às próprias dores e cheios de medo da mudança, de recomeçar, reconstruir o caminho, de aceitar ser feliz.

A felicidade terrena não é integral, mas é possível porque vem de dentro, do coração amoroso que faz o bem e que deseja ao outro o que quer para si próprio. Amar, perdoar e servir foi o exemplo deixado por Jesus.

Os Orixás e os Ensinos de Jesus - Oxalá

(trecho capítulo extraído da obra Umbanda Pé no Chão, autor Norberto Peixoto)

Jesus e os Ensinamentos dos Orixás contidos nos Evangelhos 

A Umbanda vivencia o Evangelho de Jesus em sua essência através da manifestação do amor e da caridade prestada pela orientação dos guias e protetores que recebem a irradiação dos Orixás. Encontramos no terreiro da verdadeira Umbanda entidades que trabalham com humildade, de forma serena, caritativa e gratuita; espíritos bondosos que não fazem distinção de raça, cor ou religião, e acolhem todos que buscam amparo e auxílio espiritual, conforto para dores, aflições e desequilíbrios das mais variadas ordens.

A Umbanda convida o homem a se transformar. Assim sendo, o consulente recebe esclarecimento sobre sua real condição de espírito imortal, ou seja, é levado a entender que é o único responsável pelas próprias escolhas, e que deve procurar progredir na escala evolutiva da vida, superando a si mesmo. Mas para transformar-se é preciso estar pronto para compreender as energias que serão manipuladas, porque elas trabalham com o ritmo interno. Ouvir a intuição é, portanto, ouvir a si próprio; é saber utilizar os recursos necessários que estão disponíveis para efetuar a mudança do estado de consciência.

Por isso, transformar significa reverter o apego em desapego, a doença em saúde, a tristeza em alegria, o desamor em amor, as faltas em fartura, a ingratidão e o ressentimento em perdão. É não revidar o mal, mas sempre praticar o bem. Dar sem esperar reconhecimento ou gratidão. A beleza da vida está justamente na “individualidade”, no ser único, criado por Deus para amar. E este ser único está ligado à coletividade pelos laços do coração e da evolução, a fim de aprender a compartilhar, respeitar, educar e ser feliz.

Somos o somatório dos nossos atos de ontem: por ter comentido inúmeros excessos, estamos conhecendo a escassez, ou melhor, sempre atuamos à margem, não conseguindo nos equilibrar no caminho reto, pois o processo de evolução é lento, não dá saltos, respeita o livre-arbítrio, o grau de consciência e o merecimento de cada um.

A Umbanda pratica o Jesus consolador, e, silenciosamente, vai evangelizando pelo Brasil afora, levando as Suas máximas: “A água mais límpida é a que corre no centro do rio, pois as margens sempre contêm impurezas”. “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o amanhã cuidará de si mesmo”, pois Ele nos envia o Seu amor incondicional, que não impõe condições, porque não julga, não cobra, apenas Se doa e espera pelo nosso despertar para as verdades espirituais, para o homem de bem que existe dentro de cada um de nós [...].

Em todas as passagens do Evangelho de Jesus podemos identificar a vibração dos Orixás, conforme descrevemos a seguir:

OXALÁ é a fortaleza, a vibração do Cristo Cósmico na Terra, a doação do amor incondicional, fraterno e perene, o profundo conhecedor da alma humana, o ser abençoado de luz que irradia o equilíbrio perfeito entre o princípio do masculino e do feminino. Seu olhar sereno e profundo, irradiando amor e compaixão, Lhe permite penetrar o íntimo de cada um e não julgar, apenas amar e curar, não somente as enfermidades físicas, mas as da alma. Seus braços permanecem abertos em nossa direção e Seu Evangelho nos ensina estas máximas:

- “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, pois não podemos amar a Deus, sem antes nos amarmos e, por conseguinte, amarmos nossos semelhantes. Se não existe amor dentro de nós, se não aceitamos nossas virtudes e defeitos, não podemos amar nossos semelhantes.

- ‘’Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim”. Jesus nos mostra o caminho da simplicidade e do amor farterno, do desapego e do perdão. A confiança na Providência Divina nos ajuda a difundir o Evangelho – caminho que leva a Deus, à verdade que liberta e que nos faz deixar de sofrer. Tudo o que pode deixar de existir amanhã não é verdade para nós, pois o que continua com a vida são os afetos, as alegrias, os sentimentos que carregamos em nosso interior. Devemos valorizar a nossa vida, buscando a verdade interior, o caminho para felicidade.

- “A Minha paz vos dou, mas não como o mundo vos dá”. Todos deixaremos o teatro da vida terrena para encontrar a paz verdadeira na vida espiritual. A paz do Mestre está nos valores morais, na conduta da vida em harmonia com as Leis de Deus, na paciência para com as nossas imperfeições [paciência, e não conivência] – pois temos que vencer a nós mesmos –, e no despertar da consciência na escalada da evolução, que nunca cessa. Cada mudança interior para melhor reflete-se na convivência com o próximo. Quem ama sempre vai estar acompanhado, porque o amor encontra ressonância em outros corações. Amar é doar-se para a vida, em favor do bem.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Voltando para ser feliz

(capítulo extraído da obra “Causos de Umbanda”, pelo espírito Vovó Benta)

“A dor é uma benção que Deus envia aos seus eleitos; não vos aflijais quando sofrerdes, mas bendizei, ao contrário, o Deus todo-poderoso que vos marcou pela dor neste mundo para a glória nos Céu”.

A noite se fazia alta e chovia torrencialmente. A escuridão só era rasgada pelo raios que desciam à Terra, gerando trovões assustadores. O vento forte balançava a janela quebrada que agora estava amarrada com velhas tiras de pano.

Dois olhinhos assustados espiavam o cenário externo na esperança de visualizar no meio da escuridão o pai que saíra cedo de casa. O coração da menina, num misto de tristeza e dor, já não sabia qual sentimento nutria por aquele homem que dentro de sua irresponsabilidade a deixava até altas horas da noite sozinha naquela casa que se consumia pela deterioração natural do tempo. Mais um dia em que ela ainda não havia se alimentado e seu estômago também doía.

Vencida pelo sono, cansaço e fraqueza, adormeceu debruçada na janela, sendo acordada algum tempo depois pelo barulho da porta que se abria bruscamente. Assustada, jogou-se na cama e fingiu estar dormindo para evitar os habituais xingamentos do pai, que chegara bêbado mais uma vez.

No seu desespero, chorou e rezou, pedindo, como sempre fazia, ao seu anjo de guarda para que ele pedisse à sua mãezinha, que já havia partido para o céu, que a viesse buscar. Ela não queria mais viver tão triste e sozinha, pois nem amiguinhas podia fazer, pela vergonha da situação.

Dormiu e sonhou.

Uma carruagem branquinha, enfeitada de flores, como aquela do filme que vira na televisão, comandada por um menino de olhos azuis e cabelos encaracolados, agora a transportava por uma estrada muito bonita. Embora nada falasse, o menino sorria para ela, transmitindo-lhe confiança. A carruagem parou em frente a um portão que se abria deixando à mostra o jardim de uma enorme casa, e muitas crianças corriam para recebê-los. Entre abraços e sorrisos, a menina sentiu em seu ombro uma mão adulta a segurá-la com firmeza e, quando virou seu rosto para ver quem era, a grande surpresa. Estava ali a sua mãe, mais linda do que nunca, deixando grossas lágrimas rolar de seus olhos. Desejava pular em seu pescoço, mas faltaram-lhe forças. Acolhida no colo da mulher, ela foi levada para um banho quente, ganhou roupas limpas e um caldo reconfortante para seu estômago faminto. Nem o leito limpo e macio, nem os beijos e a promessa da mãe de que ali permaneceria a convenciam a adormecer, pois temia acordar dentro de sua triste realidade, com o lindo sonho desfeito.

Naquela manhã, o homem acordou sufocado pela fumaça, ouvindo o estalar da madeira que queimava. Ainda tonto pela bebedeira da noite, abriu os olhos e percebeu que o fogo chegava na porta do quarto e sem pensar duas vezes se jogou pela janela, aos gritos de socorro. Mesmo com ajuda de alguns poucos vizinhos, e com a chegada dos bombeiros, a casa se consumiu rapidamente pelas chamas. Em vão procuraram nos escombros o corpo da menina que dormia no quarto ao lado do seu. Apenas escombros, cinza e remorso.

O homem batia com a cabeça na terra e urrava em seu desespero. Ele havia deixado uma vela acesa na cozinha antes de adormecer, amortecido pela cachaça. Ele agora se culpava pela morte da filha.

O remorso o consumia nos dias que se seguiram, quando passou a viver de favores de algumas pessoas que, penalizadas, o ajudavam. Jurou no dia do incêndio que jamais voltaria a ingerir uma gota de álcool, mas a tentação e a sede aumentavam dia a dia, até que entrou num bar e pediu um trado de cachaça. Quando pegou no copo, ouviu alguém o chamando na porta e virando-se viu ali a imagem da filha morta, a lhe sorrir. O susto foi tamanho que largou o copo no chão, saindo em desespero. Deste dia em diante seus sonhos foram recheados pela visão da menina que lhe pedia desesperadamente, para nunca mais beber. Um dia contou sobre isso para um colega de serviço, por medo de estar enlouquecendo, quando este lhe fez o convite para que fosse com ele até um centro de Umbanda que costumava frequentar. Como nunca havia se apegado a religião nenhuma, também não tinha preconceito com nada e resolveu que iria.

À medida que se aproximavam do centro, o homem sentia arrepios a percorrer-lhe o corpo todo e um medo muito grande a ponto de pensar em voltar para a casa. Seu amigo, percebendo a situação, incentivou-o dizendo que era assim mesmo, mas que quando tomasse um passe com as entidades, se sentiria muito bem.

Ao adentrar e sentir as energias balsamizantes do ambiente irradiado pelos guias espirituais, ele se acalmou, mas a saudade da filha e da esposa se acentuou, fazendo com as lágrimas fossem inevitáveis.

Quando foi chamado para o atendimento, ajoelhou-se em frente ao preto velho incorporado, dando vazão total ao choro que agora o fazia soluçar.

- Salve, zi fio. Chora, pode chorar – falava calmamente Pai Jacó, enquanto estalava seus dedos ao redor da cabeça daquele homem que mais parecia uma criança desamparada.

- Me ajuda...me ajuda... – era tudo o que o homem conseguia pronunciar entre os soluços quase convulsivos.

- Nego véio já tá ajudando zi fio, com a bênção e permissão do grande Zambi.

No ambiente extrafísico eram requisitados os guardiões do local, bem como outros falangeiros e pretos velhos para retirar e encaminhar alguns espíritos que, já em simbiose com seu corpo espiritual, ansiavam por satisfazer a vontade de ingerir álcool. Falangeiros de Oxosse, empenhavam-se em desmagnetizar de seu corpo etéreo resquícios da densa energia deixada pelos vampirizadores, ao mesmo tempo em que, servidos pelo ectoplasma [energia vital] da corrente mediúnica, aliada às energias da mata trazida por seres elementais [espíritos que vivem na natureza e que estão numa fase anterior ao espírito humano], formavam um plasma curativo que tentaria minorar os estragos gerados pelo alcoolismo em seus órgãos internos.

Embora tudo acontecesse no nível astral, era inevitável que ele se ressentisse no corpo físico, pois estava ligado àquela simbiose a tanto tempo que a retirada lhe causava uma sensação de perda. Sentiu enjôo e tontura que, aos poucos, foram passando, à medida que Pai Jacó higienizava sua aura com um galho de guiné.

- Sinto tanto saudade de minha filha...mas tenho tanta culpa pela sua morte. Sou um traste...

- Saudades e culpa. E o que zi fio tem feito para melhorar isso? Zi fio tem rezado pela menina?

- Não, em nem sei rezar.

- Hum...nem o sinal da cruz sabe fazer?

- Ah, isso sim, mas do resto das rezas eu já me esqueci.

- Pois é, então nego véio diz pra zi fio que se lembre da menina e fale com ela. Diga o que tá trancado na garganta e, principalmente, peça perdão pela falta de amor.

- Mas eu a amava! – interrompeu, aumentando o tom de voz.

- E ela sabia disso? Zi fio demonstrou esse amor a ela? Ela sentiu alguma vez proteção, amparo, carinho, vindo de suncê? Nego véio não está aqui para julgar ninguém, mas de nada adianta ficar remoendo remorsos e não se conscientizar de que houve muitos erros e que estes precisam de correção. Quando a mãe dela se foi, zi fio se sentiu vítima do destino e afogou a solidão no copo de cachaça, esquecendo que havia ficado um pedacinho dela aqui na Terra precisando de amor e cuidados. Alguém que o esperava todas as noites, preocupada com o pai irresponsável, e que só não morreu de fome pela caridade dos vizinhos.

O homem agora voltava a deixar a emoção brotar, desafogando toda dor que sentia no peito.

- Aquele espírito que veio como sua filha estava lá para lhe despertar o desapego e para ajudá-lo nesta dura batalha contra o vício, já trazido como uma má tendência de outras existências terrenas. Mas zi fio preferiu se anular em vez de lutar, diante da dificuldade.

- E o que me resta agora? Estou sozinho e sem esperança de nada.

- Ninguém está abandonado neste mundo, zi fio. O grande Zambi a todos socorre o tempo todo através de seus mensageiros de luz. Zi fio tem muita proteção ou então teria morrido queimado naquela casa e estaria agora no sofrimento em vez de estar aqui recebendo esse socorro. Tudo o que aconteceu poderia ter sido evitado pelo seu livre-arbítrio, mas mesmo assim, zi fio, tire dos erros as lições que seu espírito precisa.

Depois de orientá-lo a fazer orações diárias, através de uma conversa amigável com o Criador, o preto velho chamou o cambono e pediu-lhe que encaminhasse aquele homem até o setor social daquela casa de caridade que mantinha clínica para viciados.

Renascia ali, mais uma vez, numa mesma existência terrena, um mesmo espírito. Após um tempo de desintoxicação, integrou-se ao corpo de trabalhadores da clínica, empenhando-se em ajudar a outros dependentes que lá aportavam. Nesse trabalho, conheceu uma moça dependente de drogas que ali se curava e com ela refez sua vida.

Alguns anos depois, os dois companheiros, curados e felizes, levavam linda menina para o preto velho abençoar. Agora aqueles olhinhos não demonstravam mais medo, somente muita esperança.

- Que Nosso Sinhô Jesus Cristo abençoe esta curumim e abençoe suncê, zi fio, para que desta vez possa mostrar todos os dias que a ama muito.

O homem entendeu o recado e, entre lágrimas, beijou as mãos de Pai Jacó.

- Às vezes, camboninho, é preciso que o fogo queime o passado para que possa brotar um novo amanhã. Saravá!

- Saravá, Pai Jacó. Sua bênção.

Surra de Santo Pode?

(capítulo extraído da obra Diário Mediúnico, autor Norberto Peixoto)

Com frequência maior do que se imagina, chegam-nos pessoas preocupadas e amedrontadas, porque acreditam que, se não fizerem a vontade do guia e não atendê-lo nas oferendas solicitadas, suas vidas voltarão para trás. Outras informam que ficam doloridas após as incorporações e se recusam a fazer obrigação ao Orixá, para que isso não mais ocorra.

Vamos por partes. Primeiro, há de se esclarecer algumas características do desenvolvimento mediúnico. Os chacras [centros de energia do corpo espiritual] do médium neófito giram em frequência muito abaixo daquela das entidades do plano astral que o assistirão. Temos de entender que toda incorporação, aos moldes umbandistas, passa pelo processo de desdobramento, ocasião em que o perispírito [corpo espiritual] do médium se coloca ou se expande ou torna-se mais desencaixado da matriz carnal, para que o espírito-guia se aproxime e impressione, pela sensibilidade de seu aparelho.

Inicialmente, esse processo, se não bem conduzido em sua intensidade, dado que a frequência dos chacras da entidade é significativamente mais alta que a do médium, poderá provocar “violência” vibratória, que impactará em uma repercussão orgânica dolorida. Isso é verdadeiro. Essa violência não é do mentor, e sim do dirigente do terreiro, que não tem critério adequado, impondo incorporações anímicas [quando o transe é manifestado pela ação do inconsciente do próprio médium, não sendo gerado pela presença de um Espírito] mais fortes, como, por exemplo, nos casos de longas e extenuantes sessões de desenvolvimento, com o som dos atabaques ao máximo, sendo tocados ininterruptamente, por horas, fazendo os médiuns dançarem e rodopiarem. Nada contra a sonoridade de uma boa curimba, e sim contra os exageros.

Agrava-se essa situação quando esses testes de resistência são feitos em altas horas da madrugada, sem hora para acabar. Não há musculatura que não fique dolorida no dia seguinte, e o coitado do guia acaba sendo o responsável pela dita “surra de santo”.

[Há também que se considerar os excessos dos próprios médiuns, ou porque não estão devidamente concentrados e sintonizados no trabalho (distraídos com conversações inadequadas, risos de zombaria, intenções questionáveis, etc) ou porque que trazem consigo uma crença de que precisam fazer parecer autêntica a sua incorporação, para isso jogando-se e girando com violência contra os demais médiuns, tremendo-se exageradamente e dando grande trabalho para os cambones e demais orientadores, esquecendo-se de que o fenômeno espiritual deve ocorrer de maneira harmoniosa, quase que imperceptível para quem vê, embora de grande intensidade para quem o experimenta, pois trata-se de uma ligação que se estabelece num nível essencialmente mental-espiritual, gerando um estado orgânico característico (aumento da frequência da respiração, do batimento cardíaco, sensação de torpor em determinadas áreas do corpo, etc) mas que deve ser totalmente comandado pelo médium].

Ocorrem, também, casos de médiuns que, recém-iniciados nas consultas, não sabem dosar a intensidade da entrega no auxílio aos consulentes. Querendo ajudar a todos ao máximo, acabam por absorver para si em excesso as energias deletérias do atendido, e aí não há guia que consiga descarregar a contento, ao final dos trabalhos, sem que se aparelhos fiquem doloridos no dia seguinte.

Com o exercício mediúnico continuado praticado durante as consultas, rapidamente o medianeiro aprende a dimensionar suas energias e não se deixa ser sugado demasiadamente. Obviamente que os elementos são acessórios importantes, como a volatização do álcool e a fumaça do charuto, que servem como potentes desintegradores dos miasmas e das negatividades dos consulentes [nos terreiros em que não se faz uso do álcool e do charuto, naturalmente, a defumação coletiva e os curiadores dispostos no congá determinam o mesmo efeito].

Outra questão polêmica recorrente é a famosa “surra de santo”. Claro está que a Umbanda tem um método de persuasão mediúnica bastante peculiar para os potenciais médiuns, ainda resistentes em assumir suas tarefas.

Certa vez, estávamos em um trabalho de cachoeira, e uma amiga espírita [kardecista] que tinha ido assistir, a convite, mostrou-se bastante cética em relação à intensidade das incorporações, duvidando de que o gestual e a dança fossem necessários, dizendo que aquilo era um condicionamento dos médiuns.

Repentinamente, ela começou a ficar branca, com a mão geladíssima e a respiração ofegante. O couro retumbava nos tambores, e iniciou-se um ponto cantado de Iansã. Nossa amiga incrédula saiu a rodopiar, como se fosse o próprio raio do Orixá, e entrou na água dançando, em transe mediúnico inconsciente.

Os cambones permaneceram atrás, para protegê-la de um possível escorregão. Com alto som e força nos pulmões, nossa amiga deu um grito:
- Epahei!

Em seguida, jogou o corpo para trás, voltando à sua consciência ordinária. Estupefata pelo fenômeno, com resignada, humildade, confessou ao guia-chefe que sempre tivera pânico de água e que fazia anos não entrava em rio ou mar. Pediu desculpas e disse que sabia muito pouco das coisas da Umbanda.

O que não sabíamos é que nossa dançarina molhada estava sendo chamada por uma cabocla de Iansã para assumir seu compromisso com a Umbanda, isso depois de trinta e e cinco anos de Espiritismo. Tudo a seu tempo, e hoje essa pessoa, é laboriosa e dedicada médium em outro terreiro.

Existe muita desinformação em relação à Umbanda e, infelizmente, muitas pessoas ganham dinheiro com a religião, aproveitando-se do medo de punição que colocam nos que entram em suas correntes, quando não fazem trabalhos de amarração, para que seus médiuns não se livrem tão fácil da famosa “surra de santo”, caso queiram abandoná-los ou trocar de terreiro.

Dia desses, uma consulente passou mal na consulta e nos foi encaminhada, como sempre acontece nessas ocorrências. Na ocasião, estávamos vibrados mediunicamente com caboclo Ventania, e se deu o seguinte diálogo entre a consulente e ele:

- Estou com sérios problemas de saúde. Após várias idas e vindas aos médicos e hospitais, uma bateria de exames, ressonâncias magnéticas, testes de esforço e checape geral, nada houve de conclusivo pela medicina até o momento. Sinto dores no corpo, repentina tontura, caio no chão, na rua, e me machuco. Estou cansada e não sei mais a quem pedir ajuda. Faz dois anos que abandonei a “Umbanda” por discordar dos sacrifícios animais e estou desconfiada de que esteja tomando “surra de santo”. Pergunto se isso é possível.

- Minha filha, possível é, mas nada tem a ver com a Umbanda. Sendo a Umbanda uma força que nos dá vida, é inexplicável praticá-la como algo que a tira. O que está havendo com sua mediunidade é que determinados espíritos estão agarrados em seus chacras e, em determinado momento do dia, quando a senhora está perambulando em ambientes de baixa vibração como, por exemplo, nas calçadas próximas a aglomerações humanas, onde os pensamentos profanos e angustiados se cruzam, encontram eles força para “tomar” seu psiquismo e seus chacras, sem sua licença.

- Como resolver isso, se eu não aceito voltar ao terreiro e fui ameaçada pelo babá, pois me disse que o santo não me largaria fácil e que eu iria apanhar e sofrer?

- Seu livre-arbítrio nesse caso é soberano, como uma águia que voa acima dos patos. Uma ameaça, quando não encontra sintonia no medo, torna-se pueril e sem maiores efeitos, qual raio que não atinge a terra. Ao não conseguir se desligar da imantação magística a que está submetida, que se fortalece por encontrar receio em seu coração, acaba sendo carrasco de si mesma fortalecendo aquele que a quer submissa. Embora existam alguns objetos pessoais seu de uso ritual que ficaram no antigo terreiro, por si só são inócuos, “placebos” mágicos, se não encontrarem em seu proprietário ligação mental. Afaste o medo e confie no Alto, que estará a meio passo da libertação.

- Eu posso pedir agô – liberdade – ao meu santo em outro terreiro?

- A liberdade de consciência é um direito seu inalienável que só pertence a você, a mais ninguém; não requer permissão, seja de quem for, muito menos dos santos. Os terreiros, templos, centros, igrejas, ilês, são meras construções terrenas que servem para despertar a confiança faltante nas criaturas amedrontadas, diante do temor atávico alimentado pelo “igrejismo”, ao longo dos anos, de não conseguirem se religar ao sagrado sozinhas. Lembra-se de Jesus, que se “verticalizava” com o Pai a qualquer momento e que nunca disse fora da igreja não há salvação. Se não existe essa confiança dentro de si, avalie sete vezes setenta para quem confiará sua caminhada espiritual, pois, se a subida solitária é árdua, a descida a dois é facílima; o que cai nunca cai sozinho e se agarra nas escoras rumo ao abismo.

- Estou frequentando o centro kardecista, mas os passes e as irradiações não estão surtindo efeito. Ao ir a uma cartomante, ela jogou as cartas e me falou tratar-se de “surra de santo”. Fui conversar com outra pessoa esotérica que joga búzios, e ele também confirmou na caída. Agora, como me convencerei de que meu problema de saúde não é de santo? Com aceitar ter que fazer obrigações pagas para acalmá-los? Estou desanimada e muito triste. Ajude-me!

- Com todo respeito aos irmãos de Kardec, o mero mentalismo espiritista não surtirá efeito no processo magístico em que está envolvida. Isso não quer dizer que deva deixar de ir ao centro kardequiano. Na verdade, as diferenças são dos homens, e o magnetismo peculiar à Umbanda poderá ajudá-la, exclusivamente por seu compromisso cármico nessa encarnação, já que veio vibrada para ser “cavalo” de terreiro. Seu problema é mediúnico, uma vez que se encontra em uma indução intensa por obsessão endereçada contra sua pessoa, por meio da magia negativa. Não precisa pagar nada neste terreirinho e tenha mais persistência de que o mundo não vai cair em sua cabeça, nema senhora vai morrer dessa vez. Tranquilize-se e confie. Antes de andar pagando a este ou aquele quiromante, segure suas moedas e tenha mais paciência, aprenda a esperar. O imediatismo nas respostas e o pronto-alívio são ilusões. Se não der continuidade ao menos a sete encontros com palestra, ritual do fogo e passe nessa choupana, que não lhe cobrará nada, nem imporá nenhuma obrigação, a não ser sua presença semanal na sessão, não encontrará facilmente seu reequilíbrio, a não ser que volte para o abraço do urso, caloroso, mas que pode quebrar suas costelas. Entendeu, filha afoita?

- Entendi, meu caboclo. Faz dois anos que estou à mercê disso, sete encontros só podem me fazer bem, pois o mal que vivo, maior do que se encontra, não pode ficar. Confio e me entrego a esse congá.

- Vai com Oxalá, minha filha. Que todos os Orixás abençoem e que Xangô olhe para sua fronte alquebrada. Tenha fé, que tudo vai se resolver.

Ao término dessa consulta, junto com o Caboclo Ventania, no Astral, estava uma falange de caboclos bugres, feiticeiros, comandada por caboclo Ubirajara Peito de Aço, que se preparava para a movimentação astral da noite. Pelo visto, a cobra ia fumar, e a coral piar a favor de nossa consulente, para ela não mais “apanhar de santo”.

Corta língua,
Corta mironga,
Corta lingua de falador.
Na sua espada não há embaraço.
Chegou Ubirajara do Peito de Aço.

Ele é caboclo,
Ele é flecheiro,
Bumba na calunga.
É matador de feiticeiro.
Bumba na calunga,
Quando eu vou firmar meu ponto.
Bumba na calunga,
Eu vou firmar é lá na Angola,
Bumba na calunga.

Arreia capangueiros,
Capangueiros da Jurema.
Arreia capangueiros,
Capangueiros Juremá.

Deixem que os mortos cuidem dos mortos

(capítulo extraído da obra “Causos de Umbanda”, pelo espírito Vovó Benta) 

“Os verdadeiros laços de família não são, pois, os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos que unem os espíritos antes, durante e após a sua encarnação”.

Maria Madalena, que nunca foi muito chegada aos assuntos da religião, restringia sua fé a fazer o sinal da cruz ao se deitar na cama e ao se levantar dela. É claro, havia batizado seus filhos na Igreja Católica, afinal eles precisavam ter padrinhos. Por várias vezes em sua vida sentiu curiosidade em visitar aquele centro espírita que ficava próximo a sua casa, mas desistia ao pensar que essas coisas acabam viciando as pessoas, além do que nem tinha motivos para isso, pois sua vida estava ótima.

Hoje, vendo-se ali na fila, aguardando atendimento num centro de Umbanda, não fosse o motivo que tinha e que era sério demais, ela mesma custaria a acreditar. Apesar de achar tudo muito estranho, ao entrar no templo sentiu uma sensação de aconchego e um alivio na dor que trazia nas costas.

- Saravá, zi fia! – exclamou aquele preto velho incorporado num médium que lhe servia de aparelho.

A palavra “saravá” não lhe caiu muito bem, pois imaginava que isso significava algum tipo de feitiço ou mau feito e, instintivamente, fez o sinal da cruz.

- Eh, eh, zi fia, tá se benzendo porque ta cum medo de nego véio?

Pronto, já estava arrependida de estar ali...mas o motivo pelo qual viera valia qualquer sacrifício e, de pronto, sem esperar ter de ouvir mais nada, foi falando:

- Eu vim aqui por que me falaram que vocês podem falar com os mortos.

Sorrindo e baforando seu pito, o preto velho amorosamente falou:

- Ah, zi fia, não só o povo daqui fala com os mortos, suncê tá falando com um agora mesmo...

Um arrepio correu pela espinha da mulher, que empalideceu.

- Calma, zi fia, esse moço que tá aqui é um médium e quem fala através dele é um ser humano como suncê, só que num tem mais a carcaça de carne e que todo mundo o chama de morto.

- Vo...você é um mor...morto? – gaguejou a mulher, que já tremia de medo.

- Morto num fala, zi fia. Eu tô é muito vivo...eh...eh...

E com paciência inerente aos pretos velhos, Pai José explicou à mulher sobre a vida imortal do espírito e sobre a continuidade da vida no mundo astral e da importância de vivermos bem aqui para que a chamada morte não nos pegue de surpresa.

Já mais tranquila, a mulher então conseguiu desabafar:

- Bem, como me falaram que aqui conseguem falar com os mortos, eu vim até aqui justamente para pedir que me trouxessem alguma notícia do meu finado marido que morreu há três meses. Sinto muito a sua falta, além disso tenho sonhado com ele quase todas as noites. Tenho ido ao cemitério todas as semanas e, mesmo assim, a tristeza não passa. Ele morreu de um ataque fulminante do coração e ficaram muitas coisas para serem resolvidas, por isso acho que sua alma não consegue descansar.

- Zi fia precisa largar desse homem. Suncê o está prendendo aqui, onde não é mais o seu lugar.

- Como assim?

- Como nego véio já explicou, todos temos um tempo para viver na carne. Findando esse tempo, temos que seguir para o mundo dos espíritos e viver em espírito, aguardando nova oportunidade, novo corpo para voltar à face da Terra. Quando nossos entes queridos partem desse mundo, tudo que era material aqui termina. Como a morte vem sem aviso prévio e sem gaveta no caixão para levar os bens terrenos, a maioria se desespera e, não conseguindo enxergar o socorro, padece nos umbrais ou simplesmente permanece junto aos familiares. Outras vezes, acontece o oposto. A criatura desligada do corpo físico e pronta para seguir em corpo astral é constantemente chamada de volta pela energia dos familiares inconformados, que viram verdadeiros obsessores do morto. Desespero não ressuscita ninguém, zi fia. O que não tem remédio, remediado está. No mundo onde se encontra seu marido, a matéria, o dinheiro, o seguro de vida, os bens aqui adquiridos não existem. Lá, aprende-se a cultivar outros valores e deles tirar o sustento para o espírito.

O preto velho sabia que o que mais incomodava a viúva, não era a falta da presença ou saudades do marido, mas o fato de ter ficado com dívidas a resgatar feitas por ele e a falta do seguro de vida que ele dizia pagar em seu benefício, quando morresse.

- Suas visitas ao cemitério de nada estão adiantando, além de fazerem com que busque, naquele lugar que centraliza energias deletérias, algumas coisas nada agradáveis para sua vida. Precisa, sim, elevar seu pensamento a Deus e agradecer pelo tempo em que conviveu com essa pessoa que lhe deu uma vida confortável e feliz. Ore por seu espírito para que possa alcançar a luz e seguir sua caminhada. Os problemas que ficaram na Terra à Terra pertencem, e sua obrigação é agora resolvê-los.

- Mas eu nunca lidei com os negócios, ele resolvia tudo.

- Mais um motivo para não desesperar e sim aproveitar a ocasião para um aprendizado, pois casamento não é bengala para um dos dois se acomodar, zi fia. Quem casa, presume-se que arruma um companheiro para viver ao seu lado. Veja bem: ao seu lado, nem à sua frente, nem atrás de si. Todos os acontecimentos devem ser compartilhados para que não aconteçam surpresas na hora em que um dos dois tiver que partir. Mas como não adianta lamentar o que já passou, é hora de zi fia tirar essa roupa preta e partir para o aprendizado que a vida está lhe oportunizando. Pensa agora nos momentos bons que viveram juntos e viva dessa energia. Não cobre de quem não pode pagar aquilo que deixou de fazer aqui e pense que agora talvez seja a hora de você fazer a sua parte. Quem lhe informou que aqui fazemos contato com os mortos não mentiu, mas omitiu a verdade de como isso acontece. Só vem se comunicar com os vivos, os espíritos que já estão aptos a isso por necessidade de trabalho, de auxílio, como fazem os guias e protetores. Jamais devemos, seja por curiosidade ou mesmo por saudades, forçar comunicação com nossos entes queridos que partiram. O mundo dos “mortos” é grandioso e complexo ainda para o entendimento dos vivos e, como disse Nosso Senhor Jesus Cristo, “na casa do Pai existem muitas moradas”. Não sabendo em que lugar e em que condição se encontra o desencarnado, não devemos atormentar sua consciência com pedidos que ele pode não poder realizar. Se o amamos, devemos preservar sua integridade pós-vida com oração, que vai chegar até onde ele estiver em forma de bálsamo suavizante. Deixemos que os mortos cuidem de seus mortos e os que ficam vivos que procurem viver o que lhes resta de tempo, da melhor maneira possível. Não são lágrimas derramadas, nem o luto usado, muito menos as visitas ao túmulo que vão dizer do nosso amor a quem partiu, mas sim a nossa atitude racional de fazer dessa dor um motivo para suavizar a dor de tantos outros. Quem sabe, acalmar a dor dos que ainda vivem e com os quais eu posso falar, fazendo de minha voz um alento às suas dores. Quantos, embora vivos, jazem num leito, sentindo-se mortos pela discriminação das pessoas que os abandonaram pelo preconceito. Ache-os, zi fia, e leve a eles uma palavra de conforto, um alimento para seu espírito e também para seu corpo. E quando estiver fazendo isso, lembre-se de que seu esposo estará recebendo de alguém que pode chegar até ele o mesmo carinho e a mesma caridade. A vida é assim, filha. Nós somos elos de uma mesma corrente e a grande lei nos faz iguais diante do Pai. Tudo se reflete na tela universal. Por isso, tanto o que fizermos quanto o que pensarmos de ruim ou de bom há de se voltar para nós mesmos. Esqueça essa história de falar com os mortos e vá viver, zi fia. Vá ser feliz e fazer alguém feliz, porque a vida que ganhamos não é para sofrimento, mas para crescimento.

Naquele momento, um facho de luz iluminou o terreiro. Seres que trabalham nas fileiras do Bem resgatavam aquele espírito que sofria sendo arrastado pelo sentimento da esposa desorientada. Ela, por sua vez, suspirou, sentindo que a dor de suas costas, aliviava e que seu coração parecia mais leve.

- Siga, zi fia... que o grande Zambi a acolha em de suas moradas.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Formas Ideoplásticas

FORMAS IDEOPLÁSTICAS

Na sutil tecelagem energética que se condensa e constitui o mundo visível, ondas, vibrações, campos mentais e estruturas psíquicas interpenetram-se, tomando formas, alterando contornos, surgindo e desaparecendo ininterruptamente. 

O ser humano é, essencialmente, aquilo que cultiva na área mental, movimentando-se na faixa do pensamento que lhe caracteriza o clima existencial, 

Exteriorizando ondas mentais contínuas, sincroniza com outras de teor vibratório equivalente, que passam a corporificar-se em organização delicada, sendo reabsorvidas e eliminadas conforme a intensidade da ideação.

Saúde e doença, equilíbrio, desarmonia emocional e mental são resultados inevitáveis da exteriorização de cada ser.

Nesse oceano de vibrações em que todos se encontram mergulhados, os indivíduos conduzem-se na faixa de identificação própria, sintonizando com os semelhantes e deles haurindo idênticas exteriorizações.

Quanto mais se fixam os pensamentos nas preferências habituais, passam a condensar com os elementos da Natureza formas que se materializam e os acompanham, fornecendo-lhes alimento saudável ou tóxico, de acordo com o teor das energias que as constituem.

Além da sincronização com outras mentes – encarnadas e desvestidas da matéria – que produzem obsessões, quando viciosas ou de baixo teor emocional, elaboram estranhas e perigosas formações que empestam a psicosfera dos pacientes afervorados às distonias de comportamento íntimo.

Plasma-se no universo tudo aquilo que vibra.

As preces e os sentimentos enobrecidos fomentam delicadas construções espirituais que emanam conteúdos de harmonia, bem-estar e elevação psíquica.

As recriminações, os vícios, as aspirações perturbadoras produzem aglutinações de partículas que se transformam em vibriões agressivos e vorazes, que se nutrem do continuum mental, encarcerando o seu agente, que se lhe torna paciente aprisionado nas malhas das próprias elucubrações doentias.

Larvas, formas pensamento agressivas, vírus desconhecidos fixam-se no campo áurico e passam a invadir o corpo perispiritual, perturbando-lhe a harmonia, que se manifestará como distúrbios mentais e orgânicos de difícil diagnose e mais desafiadora terapia.

Tornam-se expressões de vida pelo automatismo que decorre do prazer de sustentar as idéias perniciosas que se fazem vitais no psiquismo do indivíduo.

Lentamente, essas vidas ínfimas agridem os seus vitalizadores, que se desorganizam, experimentando males estranhos e degenerativos.

Em razão da sua psicogênese moral, o paciente é um autoagressor, responsável pelo distúrbio em que estertora.

Toda organização material é um somatório de partículas que, em última análise, procedem da energia primária da criação.

De igual maneira nascem os campos mentais que se encontram mantidos pelas lembranças conscientes ou não das experiências físicas passadas, ressumando como necessidades de continuação, de revivescência, dificultando novos raciocínios e diferentes reflexões daqueles que lhes são habituais.

Perseguidos por essas ideações plásticas, ao ocorrer a desencarnação desses pacientes morais, os mesmos continuarão sob a indução malévola das vis construções que mobilizaram e sustentaram...

No sentido oposto, as ideoplastias felizes que compõem as formas pensamento superiores propiciam o êxtase, emulam ao avanço, fortalecem o ânimo para o ininterrupto crescimento íntimo e o autotransformar-se, esteja o espírito no corpo físico ou liberado da sua injunção...

Não foi por outra razão que Jesus acentuou: “ O reino dos Céus está dentro de vós” – e certamente o Hades também, desde que felicidade e desdita são opções elegidas por cada indivíduo.

Aprofundando a análise na psicogênese de inumeráveis obsessões especiais, defronta-se com aquelas que são produzidas pelo próprio enfermo, como efeito dos pensamentos cultivados, atraindo, a seguir, comparsas outros desencarnados que passam a manter o conúbio de nutrição vampirizadora e pertinaz.

O investimento terapêutico deverá ter, prioritariamente, o esforço para despertar o enfermo, a fim de que mude de conduta mental, libertando-se das viciações em que se compraz, a fim de renovar o pensamento, sincronizando o idealismo elevado nas faixas superiores da vida.

Concomitantemente, a bioenergética desempenha papel fundamental nesse processo, por diluir as construções perniciosas em torno da psicosfera de que se nutre, ao tempo em que, retemperando as ondas pensamento, faculte-se aspirar e nutrir-se de cargas vibratórias saudáveis.

Lentamente dar-se-á o reequilíbrio, para cujo mister a contribuição pessoal faz-se essencial.

Nas auto-obsessões, a constituição vibratória do pensamento desempenha relevante significado.

De equivalente modo, somente através da alteração da emissão de ondas mentais é que se lhe operará a recuperação.

Formas pensamento campeiam, desse modo, em todas as direções, movimentando-se e sintonizando com aqueles que possuem o mesmo teor vibratório e são diluídas por outras de poder anulador da carga negativa que conduzem.

Pensar é a arte de emitir ondas. Conforme o conteúdo mental, como efeito do comportamento moral, ou vice-versa, adquirem formas que se plasmam nas delicadas vibrações pulsantes do universo.

Sejam, portanto, quais forem as circunstâncias da existência, cabe ao viajante carnal manter o pensamento em alto nível de reflexões, cultivando as ideias otimistas e iluminativas, de modo a criar campos saudáveis dos quais se exteriorizarão as construções equilibradas da emoção e do organismo físico.

Toda vez quando as injunções tentarem imprimir na mente as idéias perversas, os transtornos de conduta, as fixações negativas em torno das ocorrências infelizes, os ressentimentos que se constituem presenças morbíficas no Espírito, é dever de todo indivíduo lúcido especialmente daquele que se vinculou aos postulados espíritas, esclarecer-se a respeito dos deveres para com a vida, substituí-los pelas formulações agradáveis e harmoniosas da paz, cultivando a esperança e vivenciando o amor, sem deixar-se afetar pelo desespero e pela mágoa.

Mesmo quando venha a tombar nos fatores inquietantes, de imediato, cabe-lhe refazer o campo mental, diluindo as impressões de desânimo e de dor nas dúlcidas vibrações da prece e do sentimento de compaixão por aqueles que se lhe transformaram em perseguidores, gratuitos ou não, mantendo-se em harmonia íntima.

Ninguém transita na Terra sem experiências do sofrimento, que deflui das incompreensões de companheiros, de afetos ou de adversários, que todos os têm.

Cabe, porém, a cada qual, a eleição do campo mental em que deseja situar-se, passando a nutrir-se do sol da alegria ou vestir-se das sombras e dos sentimentos doentios que tentam encontrar apoio na acústica da alma.

(Espírito Manoel Philomeno de Miranda, médium Divaldo P. Franco – em Mediunidade: Desafios e Bençãos).