segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A Realidade Espiritual do Terreiro de Umbanda Branca



Por: Gregorio Lucio


Vimos expondo, conforme publicações anteriores, as relações existentes entre o médium e seus guias espirituais - no campo da prática mediunista - e estabelecendo considerações, embora sumarias, em torno de determinadas características semânticas observadas nos ritos umbandistas, quais sejam a dança, a curimba, o ponto riscado, as ervas, as oferendas, a magia, as roupas litúrgicas, o transe, entre outras.

Cremos agora ser o momento de estabelecermos algumas considerações em torno dos aspectos que relacionam-se com as percepções de natureza espiritual, seus desdobramentos dentro da experiência mística, identificando-as com as movimentações que dão-se no plano espiritual, ao longo da gira, as quais implicam na elaboração de um discurso e interpretação de natureza interior e particular de nossas experiências nos ritos de Umbanda, as quais intentaremos, por ora, transmitir aos amigos leitores e irmãos de fé.

Entendemos ser o rito umbandista uma prática religiosa de caráter coletivo, no qual cada participante comunga com o outro a experiencia espiritual.

Desta forma, compreenderemos que cada indivíduo que se integra aos trabalhos da casa (mesmo aqueles sentados na assistência, bem se diga), trazem para o interior do terreiro todo o conjunto de suas possibilidades psíquicas e anímicas, assim como todo o complexo de suas relações espirituais, identificadas diretamente com sua existência. Assim, cada participante do rito traz ao terreiro os seus protetores espirituais e depositam ao longo do rito, na irradiação (egrégora) formada ao longo dos trabalhos, a sua contribuição em benefício de si mesmo e de todos quantos estejam compartilhando do momento da gira.

É de conhecimento, "senso comum", no meio umbandista que os espíritos Guias iniciam um processo de maior estreitamento de suas energias com as de seu médium (cavalo), num período de 24 horas antes do inicío dos trabalhos espirituais. Isso implica no conhecimento de que há, adrede programado, um relacionamento estabelecido entre as estruturas psíquicas do medianeiro com as de seus Guias, os quais irão penetrar em seu campo consciencial de maneira ostensiva nos momentos de transe, culminando na realização de sua função mediúnica e aplicando-a na experiência religiosa.

De tal sorte que o cavalo de Umbanda deve preparar-se ritualisticamente para o seu mister como medianeiro. O recolhimento, a oração, os banhos de defesa e a iluminação de suas correntes, conforme recomendação de cada templo, deverão ser práticas presentes em sua vida religiosa.


Isso porque serão trazidos ao campo de influência de sua aura (irradiação) não somente aqueles espíritos que irão comungar com o médium no momento do transe, mas também aqueles espíritos que encontram-se "adormecidos" no plano espiritual ou que estejam influenciando negativamente determinada pessoa ou local.

Compreendamos tal fato ao considerarmos que o indivíduo-médium, ao propôr-se a realizar a sua iniciação espiritual, passa a ampliar as suas relações com o mundo espiritual, levando-o a um maior estado de sensibilidade das influências espirtuais (positivas e negativas) verificadas em determinados ambientes e pessoas.

Porque ilumina a sua consciência com a Luz espiritual que adquire na senda mediúnica, passa a servir como farol àqueles que ainda encontram-se na escuridão e necessitam do "choque" com as suas irradiações para recuperarem a lucidez espiritual. Encontrando-se preparado, disciplinado, e consciente de sua responsabilidade como médium, poderá servir como instrumento útil aos Mentores de Luz no socorro aos necessitados do mundo espiritual, sem sofrer com isso nenhum prejuízo ou desgaste.

Voltando à questão coletiva da prática umbandista, gostaríamos de enfocar algumas percepções a respeito de particularidades do rito umbandista e seu campo de influência espiritual sobre os participantes e também sobre toda a região física e extra-física que pode ser alcançada pelas irradiações do templo, a depender de seus propósitos de trabalho e compromisso diante das Leis de Umbanda.

Movimentando as consciências de todos, no momento irmanados no sentimento religioso, para um estado de equilíbrio psíquico, o rito Umbandista efetiva desvincular os presentes (encarnados e desencarnados, sempre vale lembrar) de mecanismos emocionais perturbadores, afastando influências espirituais negativas e dissipando acúmulos de energias nocivas.

Lembremos que a proporção de seres habitantes do mundo espiritual é cerca de 8 vezes maior do que a população da Terra, portanto, o número de assistidos na dimensão astral é significativamente maior do que a quantidade de pessoas encarnadas presentes ao Rito.

Assim, a Corrente Espiritual da casa reúne em torno de si todos aqueles espíritos que serão atendidos e encaminhados para as paragens de refazimento e orientação, na Aruanda Maior.

Fazem isso, com a participação muitas vezes inconsciente da corrente mediúnica da casa, proporcionando quadros de profunda beleza, quando unem-se as irradiações espirituais produzidas pelas mentalizações coletivas (expressas ritualisticamente por meio dos pontos cantados e das orações), com aquelas provindas de instâncias superiores de Aruanda, evocadas pelos Guias no momento do trabalho, manifestando simbolos universais e plasmando-os no plano astral, sub cujo impacto abrem-se portais de luz (que geralmente podem ser vistos pela clarividência cintilando no centro do congá ou no "centro ritual" do terreiro), para onde são atraídos os espíritos recem-desencarnados ou aqueles tantos ainda doentes e inconscientes de sua condição espiritual.

Os Mentores de Luz também reordenam no mundo astral as forças que se tornarão vinculadas aos sustentáculos vibratórios do templo de Umbanda (o congá, seus assentamentos, suas firmezas, etc), integrando-as ao seu campo de influência e expandindo, consequentemente, as dimensões do templo no plano astral. Daí, imaginemos, uma casa com um tradição sólida, vivenciada durante anos e anos na prática do bem e da caridade, e poderemos vislumbrar o quão extensa pode ser a "amplitude espiritual" de um terreiro de Umbanda.

Quando presentes à gira de Umbanda, todos aqueles que nela encontram-se (médiuns ou não) são envolvidos pelo campo de atuação espiritual do terreiro, ao qual entregam, mesmo que de maneira inconsciente, todo o complexo próprio de seu mundo interior (estado emocional, memórias, conflitos, rogativas, etc), sendo este prontamente assimilado por essa "alma coletiva" formada e movimentada dentro do templo.

Esse campo "psíquico-coletivo" é acessado pelos Guias da casa e invariavelmente observado por aqueles (espíritos) que incumbem-se de trazer ao plano existencial os meios de influenciar o campo de consciência de todo filho-de-fé que pede, que ora, que agradece, plantando em seu mundo íntimo, por meio da inspiração, as disposições e possibilidades criativas de encontrar novos rumos para a sua vida, mediante a realidade de cada um.

Vemos, portanto, que a atuação espiritual realizada pelos Guias de Umbanda realiza-se, não de maneira fantástica e repleta de episódios sobrenaturais (como quer a fantasia de muitos), mas de maneira sutil e contínua sobre todos, buscando inspirar idéias e comportamentos novos ao filho-de-fé, facultando que este possa libertar-se do julgo dos conflitos existenciais e abrir-se a novas possibilidades em sua vida, contribuindo primordialmente para que este aprenda e desenvolva a gratidão, a paciência, a humildade, a caridade e a compaixão, que são atributos psicológicos dos indivíduos maduros e seguros diante da Vida.

A prática da oração (feita de coração, com atenção, e não somente repetindo palavras decoradas, de maneira compulsiva) é o elo que possibilita ligar-nos aos Guias de Luz de nossa Umbanda, e será ela (a oração) o fio condutor de nossos pensamentos com os planos superiores da Vida, capaz de integrar-nos à própria Divindade, em cujo contato poderemos aurir, das fontes inesgotáveis de Amor e Paz, a Serenidade e o Equilibrio necessários para podermos aliviar nossos sofrimentos e superarmos nossos desafios íntimos.

Saravá a todos!

Referências:

Chiesa, Gustavo Ruiz (2011). A Umbanda e as Coisas: Cosmologia e Materialidade na experiência religiosa (artigo científico).
Rivas Neto, Francisco (1996). Fundamentos Herméticos de Umbanda
Radin, Dean (2008). Mentes Interligadas


Nenhum comentário:

Postar um comentário