domingo, 24 de fevereiro de 2013

A Visão de um Adepto: Comportamento Mediúnico

Por: Gregorio Lucio

A base do comportamento do médium na Umbanda, implica na sua capacidade de sintonia com as energias que são evocadas e dinamizadas nas giras.

Conforme já sabemos (vide: As Egrégoras), estas energias ou irradiações ligam-se ao conjunto de ritos e trabalhos espirituais que são realizados por cada comunidade de santo, e acabam por caracterizar a identidade vibratória de cada terreiro, assim como a sua amplitude espiritual.

Assim, é imprescindível que cada médium, integrante de uma corrente mediúnica, seja capaz de perceber, entender e sintonizar-se com o que está sendo produzido no momento dos trabalhos espirituais. 

Concentração, Atenção, Receptividade, Sensibilidade, Tranquilidade (sim, porque se o indivíduo está agitado, ele não é capaz de se concentrar, de prestar atenção e muito menos de manifestar sensibilidade alguma). Toda estes são atributos fundamentais para todos os presentes nos ritos, em especial, para os médiuns, conforme já temos dito.

Sintonizar com o Bem está relacionado aos mecanismos que regem nossos pensamentos, os quais desdobram-se em atitudes e comportamentos correspondentes. Logo, agimos de acordo com o que pensamos. Bem e Mal, queiramos ou não, essa é a realidade que está em nós. Portanto, as atitudes e os hábitos que mantemos em nosso dia-a-dia, dão a tônica de como movimentam-se os nossos pensamentos no campo comum da nossa existência.

Com isso, quero dizer que se alimentamos repetidamente pensamentos de raiva, de revolta, de tristeza, de maledicência, de ódio, de inveja, etc, criamos um ciclo negativo, que é reforçado continuamente, que vai se fixando, num mecanismo doentio, dentro de nós, e nos fechando numa corrente de energias de caráter perturbador, podendo inclusive desencadear processos de doenças ao nível do nosso próprio organismo físico (desde uma gripe, uma alergia, até processos cancerígenos). Aquilo que a psicologia chamaria de somatização.

Entretanto, não quero aprofundar a questão no que diz respeito à produção de doenças causadas pela ação do pensamento. Quero, tão somente, enfatizar que pensamos de maneira cíclica e que, em geral, nossos pensamentos giram em torno de assuntos mais ou menos limitados, a depender dos níveis de experiências de cada um ( experiências estas, que não tem a ver com a idade da pessoa, pois existem indivíduos jovens com mais experiências vivenciadas do que um idoso que tenha tido uma vida limitada a uma determinada rotina, com poucos recursos e variações).

Dito isso, podemos entender que se alimentamos sentimentos e pensamentos perturbadores ou limitados (em torno da satisfação de nossas necessidades básicas, como fome, sede, sexo, descanso), fechamos nossas capacidades mentais num limite muito estreito e não damos margem para que desejos e aspirações maiores possam surgir em nossa consciência, nos incentivando a modificações mais profundas em nosso modo de ser, pensar e agir. E, quando digo "modificações mais profundas", não estou referindo-me a conquistas sublimes, santidade, conversões totais da nossa forma de comportamento.

Estou falando mesmo é de pequenas coisas, as quais surgem, aos poucos, dentro de nossa consciência, e vão tornando-se centro de nossas aspirações. A busca por um emprego melhor,  por deixar um determinado vício, iniciar um novo curso, começar um programa esportivo, uma dieta ou tratamento médico de que necessitamos...Coisas saudáveis que possam modificar nossa vida para melhor. Por trás destas novas motivações que surgirão, podemos notar a mudança da qualidade dos pensamentos, a sua ampliação em termos de visão de mundo e campo de interesses. De igual forma, nosso campo emocional se reforça positivamente e passa a alimentar esses pensamentos. Dentro dessa condição de saúde e transformação, analisando-nos, poderemos perceber sutis modificações, como sejam um estado de maior serenidade, estabilidade, satisfação e alegria de viver.

Mas, voltando ao momento do trabalho espiritual, quero evidenciar que nossa vida no dia-a-dia é determinante para os resultados que colheremos, em termos de experiências espirituais, na gira da qual participamos semanalmente (quinzenalmente, mensalmente...). 

Não conseguimos sair do círculo de interesses que criamos para nós mesmos, de um dia para outro. Não adianta eu ter pensado mal de mim mesmo e do meu próximo, reclamado da minha vida, da minha família e do meu trabalho, de segunda a sexta-feira e achar que no "sábado" (domingo, segunda, terça, quarta...) basta colocar uma roupa branca, tomar um banho de erva e acender uma vela que serei capaz de me libertar da corrente repetitiva de pensamentos que eu mesmo elaborei e reforcei. Minha sintonia com as irradiações espirituais, portanto, não ocorrerão ou serão limitadas e quase imperceptíveis, enquanto me demore nessa consciência de sono a respeito de minha realidade interior.

Evidente que o trabalho coletivo, com as orações, cânticos e demais características rituais, colabora, no momento enquanto dure tais práticas, com a "quebra" desses padrões de pensamento, oferecendo a oportunidade para que voltemos o olhar, brevemente, para as nossas necessidades de mudança, e sejamos nesse momento, inspirados pelos Guias Espirituais... Mas, enquanto não houver uma "luz" que surja de dentro de mim, fazendo-me compreender o mal que provoco, no meu cotidiano, a mim mesmo, mesmo sem querer, e colocando minha vontade e desejo sincero de mudança em favor desta modificação, sempre estarei fechado no círculo estreito dos meus interesses negativos e das minhas limitações.

Embora todas sejam válidas e merecedoras de nosso respeito, penso que não adianta ao médium, no que se refere a sua sintonia espiritual, somente obedecer a regras de postura e expressões corporais pertinentes ao rito, preditas na maioria dos templos umbandistas (como usar roupas brancas, não manter as mãos cruzadas durante os trabalhos, por exemplo), e conduzir-se de maneira a demonstrar falta de respeito em relação ao seu irmão de fé, rindo-se de seus erros (que são naturais em qualquer jornada de aprendizado); "cutucando" amigos e mantendo conversas paralelas e risos demasiados, no momento de uma preleção saudável realizada por um outro irmão, palestrante convidado, ou pelo próprio dirigente do templo, ou mesmo quando este está conduzindo uma orientação para algum assistido ou irmão necessitado; nutrindo falatórios envolvendo a vida alheia, de maneira menos digna; tratando de assuntos inadequados e de teor reprovável no ambiente religioso do templo (e mesmo fora dele)... 

Aprendamos que nossas condutas interiores, manifestadas de maneira doentia, embora de forma sutil e socialmente aceitas, implicam muito mais na nossa falta de sintonia com as irradiações espirituais dos nossos trabalhos do que, propriamente, as posturas corporais e as roupas que vestimos.

Enfim...melhor seria que estivéssemos de preto (azul, lilás, laranja, rosa, amarelo, etc) e com as mãos cruzadas, mas com o pensamento e a atitude digna diante da casa que frequentamos, dos irmãos que dizemos respeitar e da Umbanda que dizemos amar. 

Dessa forma é que manteremos ligação profunda com a Luz Divina que fazemos brilhar dentro de nosso Congá, sobre nossas cabeças, e da qual, em geral, tiramos tão pouco proveito.

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