Por:
Gregorio Lucio
Vimos expondo, conforme publicações anteriores, as
relações existentes entre o médium e seus guias espirituais - no campo da
prática mediunista - e estabelecendo considerações, embora sumarias, em torno de
determinadas características semânticas observadas nos ritos umbandistas, quais
sejam a
dança, a
curimba, o ponto
riscado, as
ervas, as
oferendas, a
magia, as roupas
litúrgicas, o
transe, entre outras.
Cremos agora ser o momento de estabelecermos algumas
considerações em torno dos aspectos que relacionam-se com as percepções de
natureza espiritual, seus desdobramentos dentro da experiência mística,
identificando-as com as movimentações que dão-se no plano espiritual, ao longo
da gira, as quais implicam na elaboração de um discurso e interpretação de
natureza interior e particular de nossas experiências nos ritos de Umbanda, as
quais intentaremos, por ora, transmitir aos amigos leitores e irmãos de
fé.
Entendemos ser o rito
umbandista uma prática religiosa de caráter coletivo, no qual cada
participante comunga com o outro a experiencia
espiritual.
Desta forma, compreenderemos que cada indivíduo que se
integra aos trabalhos da casa (mesmo aqueles sentados na assistência, bem se
diga), trazem para o interior do terreiro todo o conjunto de suas possibilidades
psíquicas e anímicas, assim como todo o complexo de suas relações espirituais,
identificadas diretamente com sua existência. Assim, cada participante do rito
traz ao terreiro os seus protetores espirituais e depositam ao longo do
rito, na irradiação
(egrégora) formada ao
longo dos trabalhos, a sua contribuição em benefício de si mesmo e de todos
quantos estejam compartilhando do momento da gira.
É de conhecimento, "senso comum", no meio umbandista
que os espíritos Guias iniciam um processo de maior estreitamento de suas
energias com as de seu médium (cavalo), num período de 24 horas antes do inicío dos
trabalhos espirituais. Isso implica no conhecimento de que há, adrede
programado, um relacionamento estabelecido entre as estruturas psíquicas do
medianeiro com as de seus Guias, os quais irão penetrar em seu campo
consciencial de maneira ostensiva nos momentos de transe, culminando na realização de sua função mediúnica e aplicando-a na experiência
religiosa.
De tal sorte que o cavalo de Umbanda deve preparar-se
ritualisticamente para o seu mister como medianeiro. O recolhimento, a oração,
os banhos de defesa e a iluminação de suas correntes, conforme recomendação de
cada templo, deverão ser práticas presentes em sua vida
religiosa.
Isso porque serão trazidos ao campo de influência de sua aura (irradiação) não somente aqueles espíritos que irão comungar com o médium no momento do transe, mas também aqueles espíritos que encontram-se "adormecidos" no plano espiritual ou que estejam influenciando negativamente determinada pessoa ou local.
Compreendamos tal fato ao considerarmos que o indivíduo-médium, ao propôr-se a realizar a sua
iniciação espiritual, passa a ampliar as suas relações com o mundo espiritual,
levando-o a um maior estado de sensibilidade das influências espirtuais
(positivas e negativas) verificadas em determinados ambientes e
pessoas.
Porque ilumina a sua consciência com a Luz espiritual
que adquire na senda mediúnica, passa a servir como farol àqueles que ainda
encontram-se na escuridão e necessitam do "choque" com as suas irradiações para
recuperarem a lucidez espiritual. Encontrando-se preparado, disciplinado, e
consciente de sua responsabilidade como médium, poderá servir como instrumento
útil aos Mentores de Luz no socorro aos necessitados do mundo espiritual, sem
sofrer com isso nenhum prejuízo ou desgaste.
Voltando à questão coletiva da prática umbandista,
gostaríamos de enfocar algumas percepções a respeito de particularidades do rito
umbandista e seu campo de influência espiritual sobre os participantes e também
sobre toda a região física e extra-física que pode ser alcançada pelas
irradiações do templo, a depender de seus propósitos de trabalho e compromisso
diante das Leis de Umbanda.
Movimentando as consciências de todos, no momento
irmanados no sentimento religioso, para um estado de equilíbrio psíquico, o rito
Umbandista efetiva desvincular os presentes (encarnados e desencarnados, sempre
vale lembrar) de mecanismos emocionais perturbadores, afastando influências
espirituais negativas e dissipando acúmulos de energias nocivas.
Lembremos que a proporção de seres habitantes do mundo
espiritual é cerca de 8 vezes maior do que a população da Terra, portanto, o
número de assistidos na dimensão astral é significativamente maior do que a
quantidade de pessoas encarnadas presentes ao Rito.
Assim, a Corrente Espiritual da casa reúne em torno de
si todos aqueles espíritos que serão atendidos e encaminhados para as paragens
de refazimento e orientação, na Aruanda Maior.
Fazem isso, com a
participação muitas vezes inconsciente da corrente mediúnica da casa,
proporcionando quadros de profunda beleza, quando unem-se as irradiações
espirituais produzidas pelas mentalizações coletivas (expressas
ritualisticamente por meio dos pontos cantados e das orações), com aquelas
provindas de instâncias superiores de Aruanda, evocadas pelos Guias no momento
do trabalho, manifestando simbolos universais e plasmando-os no plano astral,
sub cujo impacto abrem-se portais de luz (que geralmente podem ser vistos pela
clarividência cintilando no centro do congá ou no "centro ritual" do terreiro),
para onde são atraídos os espíritos recem-desencarnados ou aqueles tantos ainda
doentes e inconscientes de sua condição espiritual.
Os Mentores de Luz também
reordenam no mundo astral as forças que se tornarão vinculadas aos sustentáculos
vibratórios do templo de Umbanda (o congá, seus assentamentos, suas firmezas,
etc), integrando-as ao seu campo de influência e expandindo, consequentemente,
as dimensões do templo no plano astral. Daí, imaginemos, uma casa com um
tradição sólida, vivenciada durante anos e anos na prática do bem e da caridade,
e poderemos vislumbrar o quão extensa pode ser a "amplitude espiritual" de um
terreiro de Umbanda.
Quando presentes à gira
de Umbanda, todos aqueles que nela encontram-se (médiuns ou não) são envolvidos
pelo campo de atuação espiritual do terreiro, ao qual entregam, mesmo que de
maneira inconsciente, todo o complexo próprio de seu mundo interior (estado
emocional, memórias, conflitos, rogativas, etc), sendo este prontamente
assimilado por essa "alma coletiva" formada e movimentada dentro do
templo.
Esse campo
"psíquico-coletivo" é acessado pelos Guias da casa e invariavelmente observado
por aqueles (espíritos) que incumbem-se de trazer ao plano
existencial os meios de influenciar o campo de consciência de todo filho-de-fé
que pede, que ora, que agradece, plantando em seu mundo íntimo, por meio da
inspiração, as disposições e possibilidades criativas de encontrar novos rumos
para a sua vida, mediante a realidade de cada um.
Vemos, portanto, que a atuação espiritual realizada
pelos Guias de Umbanda realiza-se, não de maneira fantástica e repleta de
episódios sobrenaturais (como quer a fantasia de muitos), mas de maneira sutil e
contínua sobre todos, buscando inspirar idéias e comportamentos novos ao
filho-de-fé, facultando que este possa libertar-se do julgo dos conflitos
existenciais e abrir-se a novas possibilidades em sua vida, contribuindo
primordialmente para que este aprenda e desenvolva a gratidão, a paciência, a
humildade, a caridade e a compaixão, que são atributos psicológicos dos
indivíduos maduros e seguros diante da Vida.
A prática da oração (feita de coração, com atenção, e
não somente repetindo palavras decoradas, de maneira compulsiva) é o elo que
possibilita ligar-nos aos Guias de Luz de nossa Umbanda, e será ela (a oração) o
fio condutor de nossos pensamentos com os planos superiores da Vida, capaz de
integrar-nos à própria Divindade, em cujo contato poderemos aurir, das fontes
inesgotáveis de Amor e Paz, a Serenidade e o Equilibrio necessários para
podermos aliviar nossos sofrimentos e superarmos nossos desafios
íntimos.
Saravá a todos!
Referências:
Chiesa, Gustavo Ruiz (2011). A Umbanda e as Coisas:
Cosmologia e Materialidade na experiência religiosa (artigo
científico).
Rivas Neto, Francisco
(1996). Fundamentos Herméticos de Umbanda
Radin, Dean (2008).
Mentes Interligadas
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