sábado, 9 de fevereiro de 2013

A Visão de um Adepto: A tal da "Mediunidade Inconsciente"



Por: Gregorio Lucio


Passo hoje, neste período de início de ano, no qual tenho maior tempo para refletir e escrever, com a intenção de compartilhar com vocês algumas poucas idéias a respeito de um ponto de discussão muito comum no campo do mediunismo (seja na prática kardecista, seja na umbandista).

Uma questão bastante controversa, porque envolta em uma série de crendices e desinformações. Referimo-nos a tal “Mediunidade Inconsciente”.

O mito da “inconsciência” veio do passado, quando ainda eram quase que totalmente desconhecidos os mecanismos psicológicos, o funcionamento cerebral, no que diz respeito ao mecanismo da memória, dos estados alterados de consciência e, principalmente, por desconhecimento da própria Mediunidade.

Estimulada por muitos dirigentes Espíritas e Pais (Mães)-de-Santo, essa crença surgia por conta da necessidade de se criar um artifício que fosse capaz de garantir a “credibilidade” do médium, principalmente, quando este realizava uma consulta a alguém. Dizer-se “inconsciente”, “adormecido”, etc...era uma forma de garantir a pessoa de que o médium não tomou conhecimento dos dramas, dúvidas e conflitos (muitos, as vezes, bastante graves) do consulente, e construindo uma visão, errônea, de que há uma total divisão entre o médium e o Guia no momento do transe.

Primeiramente, lembremos que essa confusão inicia-se com a maneira popularizada de se descrever a característica do estado de transe (estado alterado de consciência) experimentado pelo médium. Para designarmos o transe em que há maior lucidez por parte do sensitivo, comumente, dizemos que este é “consciente”, enquanto quando ocorre o contrário (diminuição no estado de vigília), dizemos que a mediunidade ali manifestada é “inconsciente”.

Entretanto, ao utilizarmo-nos desse referencial para descrevermos os estados de transe, o qual foi absorvido e propagado pelo meio espírita (por conta do traço “científico” do Espiritismo, os Espíritas tendem, muitas vezes de maneira indiscriminada, a adotarem teorias e conceitos do meio acadêmico, caindo em erros de interpretação e inadequação teórica). Posteriormente, esses termos também foram adotados pelo meio umbandista. Mas o fato é que incorremos em um erro conceitual.

Esclareçamos que os termos “consciente” e “inconsciente” pertencem ao campo da Psicanálise (uma das principais escolas da Psicologia), cujo seu iniciador for Sigmund Freud, o qual deu a esses termos significados bastante delimitados e claros (embora bastante complexos).

Segundo a Psicanálise, “Inconsciente” é uma instância psíquica na qual encontram-se tudo o que é desconhecido, ignorado ou reprimido pelo “consciente”. Ou seja, podemos entender, didaticamente, que nossa estrutura psicológica está repartida em duas porções,consciente e inconsciente, sendo que a porção consciente seria infinitamente menor do que a porção inconsciente. Como exemplo, se fôssemos imaginar o todo psíquico do ser humano, fazendo a relação deste com um círculo colorido em branco e preto, diríamos que uma área de 1% seria branca (consciente) enquanto todos os 99% restantes seriam pintados de preto (inconsciente). Outro exemplo clássico na psicanálise para ilustrar a proporção do nosso inconsciente perante o consciente, seria a figura de um Iceberg. A parte visível (que em geral não é nem 10% do tamanho total dessa montanha de gelo) seria o consciente, enquanto todo o restante, submerso, corresponderia ao inconsciente.

Tal exemplo serve para dar-nos uma noção do quão vasto é nosso inconsciente e o quanto desconhecemos a cerca de nosso próprio mundo interior, fonte de nossas maiores potencialidades e virtudes, assim como das nossas maiores fraquezas e desajustes.

Uma vez que agora entendemos claramente, mesmo que de maneira ainda superficial, o que significa o Inconsciente, devemos entender o que é a Mediunidade.

Mediunidade é meio de comunicação com os Espíritos.

Resumidamente, mediunidade é uma faculdade mental que está presente em todos os seres humanos (potencialmente) e que existe em nós por conta de que, uma vez que somos Espíritos encarnados, guardamos a possibilidade de nos comunicarmos com o mundo original do qual viemos: o plano espiritual. Para isso, trazemos em nós, quando encarnados, predisposições psíquicas e orgânicas para entrarmos em contato com a realidade espiritual e para que esta experiência possa manifestar-se por meio de nosso psiquismo e organismo.

Os médiuns seriam as pessoas que manifestam essas predisposições de maneira ostensiva, patente e, em alguns casos (não poucos), de forma até desordenada e doentia, precisando ser devidamente educados e orientados para saberem comandar a sua hipersensibilidade. 

A mediunidade ocorre pela comunhão mental entre duas individualidades distintas, uma localizada no mundo espiritual (Espírito Desencarnado) e a outra no mundo físico (espírito encarnado – médium), em que há a comunicação de uma determinada experiência com uma finalidade útil, a qual, em geral, gira em torno da comprovação da realidade após a morte e o auxílio de pessoas necessitadas, sendo esta segunda  função a  preponderante nos trabalhos mediúnicos realizados nos Centros Espíritas e Terreiros de Umbanda.

Pois bem, dizemos isso para agora juntarmos os dois conceitos e entendermos que há uma contradição na utilização do termo Mediunidade Inconsciente.

Mediunidade implica diretamente na idéia de um fenômeno psíquico e orgânico experienciado por alguém (médium) e que tem como fim a manifestação de uma segunda individualidade exterior e independente ao médium, com características e conteúdos próprios, os quais são expressos por seu intermédio.

Inconsciente é o campo vasto de nosso mundo interior, de nosso todo psicológico, no qual estão contidas todas as nossas memórias, experiências, emoções, etc...

Logo, dizer “Mediunidade Inconsciente” é o mesmo que dizer que aquela entidade que manifesta-se pelo médium, é uma elaboração do seu inconsciente, uma produção psíquica que surge por conta de um estado alterado de consciência...E, afirmar isso, é NEGAR a realidade da Mediunidade.

Todo aquele que utiliza o termo Inconsciente (e Consciente também) para tratar dos assuntos da mediunidade, colabora, sem o saber, para municiar a todos os descrentes e críticos da prática mediúnica (psicólogos, psicanalistas e psiquiatras materialistas, por exemplo).

Em relação ao termo “Mediunidade Consciente”, temos uma redundância. A mediunidade deve ser sempre consciente. Ou seja, justamente por se tratar de uma faculdade mental, para que possa expressar-se e cumprir sua finalidade, ela deve estar sob comando do médium, deve ser sempre realizada de maneira consciente.

Se fôssemos tratar da característica mediúnica, deveríamos tratá-la considerando, simplesmente, se há justamente maior lucidez ou não por parte do médium no momento do transe.

Aqui cabe mais uma consideração. Primeiro, a de que os médiuns que tinham como característica mediúnica o transe elaborado com uma perda de lucidez acentuada (embora nunca totalmente ausente), são e sempre foram, raríssimos, pelo motivo próprio do tipo de trabalho que estes deveriam executar. Exemplos, José Arigó, Carlos Mirabelli, Euzápia Palladino, Peixotinho, todos foram médiuns de Cura (que promoviam efeitos físicos, materializações, cirurgias espirituais, transportes, etc)...reparem que não cito Francisco C. Xavier, pois este mesmo já havia dito, por várias vezes, que sua característica mediúnica era a de extrema lucidez, excetuando justamente o curto período em que também este promoveu fenômenos de materialização.

De nossa parte, em infinita maioria, ligamo-nos à mediunidade por conta de processos de reajuste cármico e de necessidade de aprendizado espiritual e é extremamente importante que tenhamos conservada a nossa lucidez, pois as energias positivas, as imagens, pensamentos e mensagens de teor elevado que nos são trazidos pelos Guias nos momentos de transe, devem fixar-se em nossas memórias, promovendo a abertura para a mudança interior e a evolução (transformação positiva) como seres humanos e médiuns que somos. Mais do que os outros, somos nós mesmos os maiores carecedores de aprendizado e renovação. Conservar-se “adormecido” e “alheio” durante o contato espiritual seria perda da oportunidade de engrandecimento e edificação de nossas próprias condições íntimas.

Ainda são muitos os que conservam esse preconceito e essa desinformação em nosso meio, embora, felizmente, as luzes do conhecimento já estendem seus raios ante as trevas da ignorância que se espalhou em torno das questões da Mediunidade.

Que nossa mediunidade esteja sempre com Jesus, nosso Norte, Guia e Mestre!

Fiquem com Deus!

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